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Biblioteca de Fanzines

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Cartas para ‘’S’’

(Contando Caso)

Observação: Isso não é um poema, não é um conto, não é uma crítica, não é uma crônica, isso é um caso. Uma história que aconteceu. Um caso que resolvi narrar.

[Algumas coisas acontecem a nossa volta para que possamos perceber a vida.]

Cartas para ‘’S’’

Segunda-Feira, Setembro de 2014.
Bem! Um dia desses bem cedinho acordamos e nos ajeitamos para ir ao trabalho, fomos pelo mesmo trajeto de todos os dias.  E, neste trajeto passamos por um grande muro, um muro comum como outro qualquer. Mas, naquele dia em especial, notamos algumas pessoas lendo algo no grande muro, não resistimos, paramos para ler também. Coisas da curiosidade humana! Bem, a princípio imaginamos que alguém tivesse se acidentado ali, por que de longe vimos flores coladas no muro.
Quando chegamos perto, foi um espanto! Um espanto bom. Não se trava de morte, não pelo menos de morte física. Adivinhe o que era?
- Eram cartas de amor...

Foi comovente ver cartas de amor pregadas num muro às 07h40min da manhã. Afinal, quem faz isso hoje em dia? Ou melhor, com que freqüência se vê algo do tipo?
Cartas de amor!
E, essas cartas foram escritas para alguém.
Eram cartas para ‘’S’’.

Breve descrição:
- As cartas foram escritas com letras aparentemente masculinas. E pelos pronomes utilizados, provavelmente foram escritas para uma mulher.  Os apelos de amor eram bonitos e convincentes, bom pelo menos para nós que estávamos diante daquele muro lendo.
Eram seis cartas direcionadas da seguinte forma;

De alguém para ‘’S’’.

Juras de amor estavam contidas nas cartas, o remetente da carta dizia amar ‘’S’’.
Dizia com uma verdade tão absoluta que não tinha como não se encantar, se emocionar!
Pela forma escrita, deu para notar que as cartas foram escritas por mãos rápidas, e pelo o que havia descrito, ao meu entender era como se, o remetente e ‘’S’’ se conhecessem. Como se fossem, por exemplo, amigos.

O apelo usado não era um pedido de perdão, ou coisas do tipo, como se estas pessoas já tivessem tido algum tipo de envolvimento.
O apelo era o pedido de uma chance.
Apenas uma chance era o que o remetente pedia para ‘’S’’.

Algumas frases das cartas que me emocionaram:

Remetente:
A vida é minha, mas o coração é seu.
O sorriso é meu, mas o motivo é você.
Pegue as rosas ‘’S’’, isso tudo é para você.
Isso é só um gesto do quanto de adoro.

Enfim.
Além das cartas escritas ligeiro, sem remetente e nome concreto do destinatário, também haviam corações desenhados nas cartas. Além disso, duas rosas vermelhas coladas perto das cartas. As cartas foram escritas em papel chamex, com caneta preta, e foram coladas com esparadrapo.
Era bonito de ver!
Perguntei-me, o amor ainda existe?
Vendo isso, eu afirmei a mim mesma.
Existe!
Cartas de amor...

Logo depois dessa euforia rápida durante a manhã, notamos que exatamente ali onde estavam coladas aquelas declarações e rosas de amor, era um ponto de ônibus.
E, fomos embora.
Isso foi assunto entre nós no café antes do trabalho, assunto que rendeu bastante.  E, em eu particular, fiquei matutando isso durante o dia inteiro.
Imagina!
Alguém em pleno século XXI, em meio a toda tecnologia, colocou-se na situação de amor a moda antiga, escrevendo cartas e mandando rosas.
Para mim isso foi o máximo!
Sabe, ter vivido para ver isso.
Um amor poético fora dos livros.

Então eu fiquei pensando;
(O remetente escreveu as cartas e colou no ponto de ônibus, por que provavelmente ‘’S’’ pega ônibus ali.  Então ‘’S’’ com certeza vai ler, pegar as rosas e quem sabe vai dar a tal chance?)
E, o dia passou.
Na volta para casa, passei pelo mesmo caminho rotineiro e um susto! As cartas ainda estavam lá.  Ficamos pensando:
(Talvez ‘’S’’ não tenha pegado ônibus hoje.)

Mas...
As cartas e as rosas permaneceram lá pregadas naquele muro por quatro dias seguintes. E, nestes quatro dias eu vi muitas pessoas diferentes lendo aquelas cartas que foram dedicadas para ‘’S’’, tanto na ida, quanto na volta ao trabalho, vi pessoas fotografando para colocar nas redes sociais.
E a frase de todos era a seguinte;
-O amor ainda existe!

No quinto dia quando eu passei por lá na volta do trabalho, eu estava a pé e sozinha.
Quando parei lá na frente das cartas, tinha uma senhora esperando o ônibus.
Começamos a conversar sobre as cartas, então ela me disse que as cartas estavam lá desde a sexta-feira.
Imagina, as cartas estavam lá não há quatro dias e sim a exatamente sete dias.
Senti um ar de tristeza, uma coisa fria por dentro.
Escura!
Meu coração cortou, sabe! Fiquei com muita pena.
Deu-me aquela vontade de encontrar o remetente e dar um abraço.
Deu-me vontade de encontrar ‘’S’’ e pedir que desse a chance.
Mas, a vida real é mais dura do que aparenta ser...

Como nem tudo é poesia.
Escrevo agora este caso bonito, triste!
De alguém que de tanto amor que sentia o declarou.
Escrevo este caso bonito, triste!
De alguém que pode não ter visto.
De alguém que pode ter visto e não entendido.
De alguém que pode ter visto aquelas cartas e não tê-las aceitado.

Numa fração de segundos eu pensei tantas coisas, que até doeu em mim, de verdade sabe!
Imaginei que tanto de paixão e amor aquele remetente, admirador sentia a ponto de ter coragem de escrever.
Por que ter coragem de escrever o que se sente é muito difícil.
Coisas de gente corajosa mesmo!
Imaginei que aquele remetente, admirador, de tanto amor, comprou rosas vermelhas, para isso foi à floricultura, certamente um dia antes de ir colocar as cartas, por que não teria floricultura aberta tão cedo.
De repente a pessoa estava tão ansiosa que nem dormiu, saiu de sua casa com cartas, esparadrapos e rosas, arriscando-se ao ridículo, por que o amor nos torna tão ridículos.
Foi bem cedinho e deixou seus sentimentos colados num muro.
Não só para ‘’S’’, mas, para que todos vissem...

Imaginei também dentro destes segundos, que o remetente, admirador, escritor daquelas cartas, talvez tivesse ficado por ali de longe vendo.
E isso doeu um pouco mais.
Por que tudo o que podia ser visto na verdade, na realidade do mundo e da vida, é que as cartas não foram correspondidas.
Então, eu as recolhi depois que a senhora embarcou no ônibus.
Este é o caso que eu tenho para contar hoje.
O caso das cartas de amor.
(Cartas para ´´S´´


Breve Poema Sobre este fato:

Ainda.

Ainda existem pessoas que amam.
Amam de verdade a ponto de fazer uma declaração.
Ainda existem pessoas que não vêem este amor.
Ainda existem pessoas que fingem que não vêem este amor.
Ainda existem muitos muros para serem colados.
Ainda existem muitas pessoas precisando ler declarações.
Ainda existem pessoas de coragem.
Ainda existem pessoas sem coração.
Ainda.
Ainda existem muitos ‘’S’’ por aí...

O amor tem que partir de nós, de dentro de nós.
Contudo,  estou narrando este caso só para dizer.
Quer declarar amor?
Declare.
Mas, declare olhando nos olhos.
Assim a expectativa pode talvez, ser alcançada.
Ou até a mesmo a frustração seja menor com a presença.
Ninguém sabe na verdade.
Mas, a chance aumenta com olho no olho.
Por que com olhos nos olhos, o coração não balança!


(Não)
- Não.
Esta foi à resposta para as cartas declaradas a ‘’S’’.
Mas, mesmo assim me comoveu a pensar no amor de um jeito diferente.
E, por este motivo resolvi escrever este caso. Por que aquele amor precisa ficar registrado.
E, para mim este amor partido, não foi o fim, mas recomeço de tudo.
Não...

(Catar para ‘’S’’)

Por: Daniela Dias.