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Biblioteca de Fanzines

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

(O vazio de 2015)

- E mais uma vez estou cá eu, com minha dose de cachaça e meu limão, aproveitando o sal das minhas lágrimas…

Sobre mim.
Roubaram meu sobrenome.
Roubaram minha infância.
Roubaram minhas chances.
Roubaram minha inocência…

Roubaram.
Roubaram!
Roubaram?
Ah, não!
Desculpem o transtorno!
Correção.

Nunca tive um sobrenome paterno.
O materno nunca me serviu para coisa alguma.
A infância nunca tive tempo pra ter.
(Desde bem cedo tive que trocar os estudos pelo trabalho.)
A inocência nunca fez parte da minha vida,
desde cedo as sombras me perseguiam e eu tive
que estar sempre em alerta, alarmada!
Então…

‘’Mais uma dose? É claro que eu tô afim… ’’

Quando penso na trajetória da minha vida até o ponto deu ter me tornado esta pessoa tão amarga e petrificada eu faço e refaço, conto e reconto, os pontos, os pingos, as vírgulas, as letras, as palavras e a história com a finalidade de mudar de alguma forma a trajetória.
E eu não consigo nada.
Eu posso até mudar a forma de contar ou avaliar.
Mas a estrada não é aleatória.
Eu tenho uma memória!
Hoje me dei conta que não me roubaram nada.

Não roubaram?
Não.
Não roubaram!
Não roubaram…

Ninguém pode ter me roubado aquilo que eu nunca tive.
Nunca tive sobrenome.
Nunca tive infância.
Nunca tive chance.
Nunca tive inocência.
Nunca tive.
Eu nunca tive.
 Por que nunca me deram a oportunidade de ter.

Hoje meu olhar estar diferente.
Talvez até um pouco mais vazio.
Acabo de me dar conta que nunca me roubaram nada.
E isso até seria trágico, se eu não fizesse disto um poema ou um conto cômico.
Acabei de me dar conta, nunca tive nada pra ser roubado.
Nunca me roubaram nada…

- E mais uma vez estou cá eu, com minha dose de cachaça e meu limão, aproveitando o sal das minhas lágrimas…

(Daniela)


segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

(Aos que pretender ler, peço que leiam com calma. Pois este poema traduz uma alma. E recomendo a leitura deste poema com o som ‘’More Beautiful/Sad Piano Songs By Brian Crain’’)


Sons de Piano

Nasci.
Nasci!
Nasci?
Ah! Nasci…
Sons de piano não poderão me acalmar.

Cresci.
Cresci!
Cresci?
Ah! Cresci…
Sons de piano não poderão me acalmar.

Me perdi.
Me perdi!
Me perdi?
Ah! Me perdi…
Sons de piano não poderão me acalmar.

Abracei, afastei.
Abracei, afastei!
Abracei, afastei?
Ah! Abracei, afastei…
Sons de piano não poderão me acalmar.

Amarguei.
Amarguei!
Amarguei?
Ah! Amarguei…
Sons de piano não poderão me acalmar.

Adoeci.
Adoeci!
Adoeci?
Ah! Adoeci…
Sons de piano não poderão me acalmar.

Morri.
Morri!
Morri?
Ah! Morri…
Sons de piano não poderão me acalmar.

Nasci.
Cresci.
Me perdi.
Abracei.
Afastei.
Amarguei.
Adocei.
Morri.
(AMEI)

Tentei ao máximo ser sempre mais do que eu realmente podia.
Confesso! Até consegui chegar mais longe que qualquer um imaginaria.
Mas morri.
Em meio às luzes do céu eu mesma não posso me encontrar.
Em meios as ondas do mar eu mesma não posso me encontrar.
Morri.

Nasci.
Cresci.
Me perdi.
Abracei.
Afastei.
Amarguei.
Adocei.
Morri.
(AMEI)
Sons de piano não poderão me acalmar.

Morri.
Morri!
Morri?
Morri.
Morri.
Morri…
(Não tendo aquilo o que eu realmente queria.)
Asas para voar!
E uma família que pudesse me amar.
Então! Morri…
Sons de piano não poderão me acalmar.


Chorei.
Escrevi este poema.
E dormi.
Eu sei!
Sons de piano não poderão me acalmar.

(Daniela Dias)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Café com Pão/Arroz com Feijão

Café com Pão/Arroz com Feijão

Hoje logo pela manhã eu saí atrasada para o trabalho.
Na portaria do condomínio reencontrei uma amiga.
Não nos víamos há muito tempo.
Eu a abracei, ela retribuiu.
Eu a perguntei como estava à vida.
Então ela começou a falar um monte de coisas,
Coisas sem fim, coisas em números, coisas grandes.
Sabe, coisas de gente grande!
Coisas de gente engrandecida…

E tudo isso ela falava num curto espaço.
Eu piscava os olhos ela falava mil palavras:
´´ carro, casa, palestra, projetos, audiência, dinheiro, processo, me convidaria para um jantar chique…’’
E ela foi falando, falando, falando!
Coisas em números, coisas de gente grande.
Palavras, palavras, palavras…
(Socorro!)
Eu pensava.

De repente olhou para o relógio, disse que custou um baba e que estava atrasada.
Despediu-se e foi embora.
Ufa! Tudo bem! O falatório havia acabado.
Eu estou feliz por ela ter conseguido conquistar tantas coisas.
Estou triste também, não pelas coisas conquistadas,
mas pela perda de uma amiga que talvez não veja mais.
Aquela que ria, gargalhava, falava palavrões e contava piadas.
Aquela que a gente abraçava e sentia calor humano.
Sabe, aquela que contagiava!
Talvez ela ainda exista lá dentro, bem dentro…

Naquele momento enquanto caminhava para o trabalho eu me lembrava
do filme que assisti com minha Eddy "O Pequeno Príncipe" (Le Petit Prince) que a propósito provocou muito em mim o ´´emocionar ´´.
O problema não é crescer, o problema é esquecer…

Resumindo:
Bem, ela foi embora e não me perguntou como eu estava.
Mas tudo bem, por que naquela hora tudo o que eu queria
era café com pão.
- Cafééééé com pããããããooooooo!
E quando alguém me convidar para um jantar, por favor!
Sirva-me:
- Arozzzzzzzz, feijããããããõoooooo!

Conclusão:
Quando me encontrar;
Abraço!
Sorrisão!
Quando me convidar;
Café com pão!
Arroz com feijão.

(Por que são essas coisas que eu amo.)

Registrei pra não esquecer.
Por que mais vale um abraço que um coração cheio de aço…

Daniela Dias.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Vinte e Dois de Fevereiro

(Aos que pretendem ler, peço que leiam com calma. Pois, este poema precisa ser lido pausadamente, respire fundo ao menos uma vez, este poema traduz uma alma.)

Vinte e Dois de Fevereiro

Hoje eu acordei cedinho.
A cama estava fervendo.
Peguei meu livro sobre o criado mudo.
Desci as escadas do prédio.
Sentei me no jardim do condomínio.
O sol ainda não tinha nascido.
O sereno ainda estava nas flores e folhas.
Encostei-me numa castanheira, depois fui abaixando lentamente para sentar-me.
Lentamente feito que está com o corpo cansado.
Sentei-me.
Abri meu livro predileto na página 27 e li.
Depois fechei o livro.
Li como quem não tivesse lido nada!

Senti uma sensação estranha, uma aparente tristeza pairou sobre mim,
senti-me fria, amarga e cruel com o mundo e comigo mesma.
- Ingrata!
Afinal, o sol já estava nascendo, e os pássaros estavam cantando,
e meus olhos e ouvidos  perfeitos, viam e ouviam todas essas maravilhas,
e mesmo assim eu me entristecia.
Senti uma vontade doida de acender um cigarro.
Mas eu parei de fumar a algum tempo.
Não tenho isqueiros ou cigarros, apenas motivos.
Meus olhos marejados não se calaram, entronaram!
Minha garganta apertada solicitou um grito de emergência.
Mas não gritei!
Enquanto eu mergulhava em minha  tristeza, meu coração dizia:
- Socorro!
Minha razão dizia:
- Egoísta!
E eu decidi não ouvir nenhum dos dois.
Silenciei.
Engoli a seco.
Eu me dei conta que já era dia.
Eu de pijamas com um livro na mão e a cabeça cheia.

- Porquê? Perguntei a mim mesma.
- Eu sei, sou egoísta! Respondi a mim mesma.
- Há tantos felizes tendo tão pouco ou nada menos do que eu tenho.
- Porque eu não?
- Porquê eu não?
- Porquê?

Olhei para cima, um gato em outra árvore me observava.
Ele estava lá paradinho fixamente me olhando.
Eu cheia de dores e lágrimas!
Eu pensei em tudo, e tudo não deu em manda.
- Sou extraordinária! 
- E culpada pela falta de nós, fitas e laços.
Amável, amarga, silenciosa.
Levantei sem forças.
Subi as escadas.
Coloquei o livro de volta no criado.
Coei um café fresquinho.
Tomei um banho frio.
Vesti meu uniforme, calcei meus sapatos gastos.
Me servi com meia xícara de café amargo, duas colheres de açúcar.
Bebi.
Peguei minha bolsa sobre o sofá.
Então desci as escadas novamente.
Hora de trabalhar.
Nos fones de ouvido (Vanessa da Mata).

Sem mais, hoje não foi um dia como qualquer outro.
Hoje é vinte e dois de Fevereiro.
O dia em que a tristeza pairou sobre mim.
No próximo ano descreverei esta mesma data, como alguém que sente
a esperança da mudança. Como alguém que pretende estar respirando neste dia.
Fim do trajeto!
O mundo não para, eu também não posso parar.
Eu sou o ponto de mágoa.
E estou em busca de paz.
Adeus, até ano que vem! Digo a mim mesma.
Enquanto caminho.
O meu coração não para!
Não para.
E o sol está no meio do céu.

Por: (Daniela Dias)



Pingo


Vinte e Nove de Setembro

Vinte e Nove de Setembro

Eram seis horas da manhã quando acordei.
O clima estava agradável! Fresco!
E neste dia, ah neste dia eu acordei diferente.
Eu tomei um banho gelado e vesti um jeans apertado,
coloquei minha camiseta cortada da banda ‘’Velho Scotch’’,
calcei meu tênis velho, tapei meus olhos com meu ray-ban favorito,
prendi meus cabelos com elástico, inseri fones nos ouvidos e sai para caminhar...

Naquele dia, naquele momento:
A tristeza era quase aparente. E a saudade era silenciosa.
Apenas se ouvia dentro de mim.
Os óculos escuros escondiam meus olhos, enquanto eu caminhava.
Eu queria poder mostrar meus olhos ao mundo, mas não podia.
A dor era grande!
Então eu caminhei o tempo todo escondendo meus olhos por trás de óculos escuros!
Escondendo meu...

Ah!
Naquele dia eu acordei diferente!
Acordei com dores na alma, querendo caminhar por horas a fio.
Caminhar para qualquer lugar com meu tênis velho.
Querendo sentir alguma nova emoção enquanto ouvia Vanessa da Mata.
Querendo parar de esconder meus olhos...

Naquele dia eu acordei diferente.
Eu deixei nos cabides todas as saias que me enfeitam no dia a dia.
E naquele dia eu vesti um jeans apertado.
Eu sei.
Ah!
Eu sei.
Mil poemas não poderiam me descrever naquele momento.
Naquele dia em que eu acordei diferente!
E os meus olhos continuaram escondidos por trás de óculos escuros...

Naquele dia o mundo estava igual para todas as pessoas.
Mas para mim nada soava normal, eu estava diferente!
Tudo o que eu queria era andar por aí com meus fones de ouvido.
Era ouvir ‘’Vanessa, Elis, Maysa e Nara ou Natiruts’’ enquanto caminhasse com passos lentos
ao mesmo tempo em que escondesse meus olhos.

Eu sei!
É!
Eu sei.
Naquele dia tudo poderia ter sido diferente.
Mas não haveria como ser, pois era vinte e nove de Setembro.
Então o melhor que eu podia fazer era caminhar escondendo meus olhos.
O melhor que eu poderia era vestir um jeans apertado.
A esta altura eu já estava ouvindo ‘’Vento no Litoral’’ há tanto tempo.
Eu já estava caminhando  há tanto tempo.

É!
Eu sei!
Eu estava há tanto tempo de olhos escuros.
Era vinte de nove de Setembro.
Eram nove da manhã, quando me dei conta do tempo e do espaço.
Então segurei a dor, sequei meus olhos, recoloquei meus óculos e voltei.

Em casa a vida estava vazia, mesmo assim ‘’Meus Vinte Anos’’ tocava no áudio.
E eu de óculos me deitei no chão.
Jogada com meus tênis e meus jeans enquanto a música me fazia refletir.
Senti uma saudade amarga.
Era vinte e nove de Setembro.
E alguma coisa o durante aquele dia me incomodou, mas no dia seguinte eu sabia que seria diferente, por que afinal não seria vinte e nove de Setembro...

Por: Daniela Dias.




Você se foi...

Você se foi

Hoje é dia vinte e três.
É noite!
No relógio vinte e duas horas e nove minutos,
os segundos passam rápido, não posso descrevê-los.
Mas não importa.
Eu não preciso descrevê-los.
Realmente não preciso!
O que eu preciso descrever aqui neste papel é o...
Ah!
Eu preciso descrever como tenho me sentido.
Sabe!
O que eu tenho sentido aqui dentro.

Eu preciso ver você!
Eu preciso de você!
Eu preciso te abraçar!
Eu preciso gritar!
Eu preciso chorar!
Eu preciso dizer aqui, ali ou lá!

Eu preciso escrever, o quanto tem sido difícil.
Como tem sido doloroso não ver você,
não saber de você, não estar com você,
não ouvir sua voz, não respirar o seu ar.
Não sentir o seu calor, não saber onde você está.
Mas...
Eu não consigo fazer isso.
Não!
Não consigo encontrar forças para fazer tudo isso ou para seguir em frente.
Não sem você!

Sabe!
Você não iria querer isso, mas...
Tudo o que eu tenho feito é me sentar em frente ao mar para ver as ondas.
Tudo o que eu tenho feito é me sentar em nossa antiga cadeira fria.
Tudo o que eu tenho feito é abrir garrafas de vinhos.
Tudo o que eu tenho feito é colocar duas taças sobre a mesa.
Tudo o que eu tenho feito é tentar esquecer!

Mas feito algo impossível, feito doença incurável, eu tento, mas não consigo.
Eu abro a porta, eu fecho a porta.
Eu ando pela nossa casa com as luzes apagadas.
Eu tento!
Já queimei todos os retratos!
Mas isso foi tão em vão, por que você ainda está em minha memória.
Você ainda está comigo a cada passo.
Hoje é dia vinte e três.
E tudo o que eu tenho feito é me lembrar quando na verdade deveria esquecer.
Eu preciso descrever como tenho me sentido.
Sabe!
O que eu tenho sentido aqui dentro.

Eu preciso ver você!
Eu preciso de você!
Eu preciso te abraçar!
Eu preciso gritar!
Eu preciso chorar!
Eu preciso dizer aqui, ali ou lá!

Eu preciso escrever, o quanto tem sido difícil.
Como tem sido doloroso não ver você,
não saber de você, não estar com você,
não ouvir sua voz, não respirar o seu ar.
Mas...
Eu não consigo fazer isso
Não sem você.
Não!

Então...
Eu que de corpo cansado e coração pesado não suporto mais,
deito-me em nossa antiga cama, e suspiro fundo, enquanto olho
sem desviar um segundo para o teto. E o ventilador gira lentamente.
E este é o fim do meu tormento.
Enquanto olho fixamente, e enquanto a hélice gira,
eu  tento ler a frase que você deixou lá algum dia.
E a vejo e isso me acalma!

Fecho meus olhos com sua frase confortando aqui dentro.
E dou desfecho aos meus pensamentos.
Você sabia que eu iria precisar disso.
Por que você está por aí em algum lugar no infinito sem mim.
E entro a dor de não saber de você e a sua frase.
Eu me...
Eu digo gritando dentro de mim:
- Eu também amo você!
Hoje é dia vinte e três.
Vinte e três horas e cinqüenta e nove minutos.
Os segundos não sei descrever.
Mas isso não importa.
O que me importa é descrever meu amor por você.
O que importa é eu descrever a falta que você me faz...


Por: Daniela Dias.