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Biblioteca de Fanzines

quarta-feira, 20 de abril de 2016

------------------Cansaço!------------------------

(Poema Narrativo)


------------------Cansaço!------------------------
Significado de Cansaço: Fadiga, canseira.
Fraqueza causada por exercício ou doença.
Significado de Cansado: Fatigado, afadigado.
Aborrecido, enfastiado.

Cansaço!

São 03h37min da manhã, está frio, e eu estou na sala.
Estou sentada em meu sofá vermelho, tomando um chá gelado sem açúcar.
Estou diante do meu quadro escuro, cansada!
Sinto cansaço e estou cansada...

Ouço o tic-tac do relógio de parede, e também estou cansada disso.
Eu tenho um relógio de parede, e ele não para!
Por ora, ele tem pilhas novas, mas, chegará o momento em que as pilhas ficarão cansadas a ponto de se acabarem, então os ponteiros que agora me incomodam irão parar.
Mas quer saber o que mais me deixa cansada neste momento?
É o fato de que os outros ponteiros de todos os outros relógios não irão parar, eles continuarão fazendo tic-tac...

Estou de pijama e meias, cansada e sem pensar em algo bom para fazer.
Resolvi abandonar o cigarro algum tempo atrás,  então tive que abandonar também
o vinho e o café por conta do cigarro e do seu ciclo vicioso.
Acontece que eu me cansei dos cigarros também...

Então, hoje eu vou escrever apenas que estou cansada!
Enquanto eu penso mil coisas inúteis, que me deixam ainda mais cansada,
Vejo meus livros na estante.

Livros que comprei,
Livros que ganhei
Livros que escrevi,
Livros que eu li, livros que nunca lerei.
É tudo tão em vão.
Cansei-me disso também...

Estou cansada demais para ver razão lógica de tudo, e tudo agora que se torna nada.
Só posso dizer;
Estou cansada de pertencer a este corpo.
Cansada de estar cansada.
Alma pesada...

E nem pense que este cansaço é algo estranho.
Quem nunca, não é mesmo?
Estou cansada de me prender nestas roupas, de pentear os cabelos,
cansada de usar batons, de base no rosto, de brincos que combinem,
de sapatos confortáveis...
Estou cansada!


Sabe essas coisas obrigatórias?
Estou cansada de dormir e acordar, de comer e de sentir fome para comer de novo.
Estou cansada de piscar os olhos, de escovar os dentes, de menstruar.
Estou cansada...

Cansada de sorrir, cansada de secar lágrimas.
Estou cansada de abaixar e levantar os braços.
Cansada de ir e voltar, cansada de ter que fazer algo.
Estou cansada de cortar o cabelo, cansada de ele crescer, e eu ter que cortá-lo de novo.
Cansada!
Cansada no corpo, cansada na alma!
Cansada das dores de dentro e das dores de fora...

Estou cansada de trabalhar, comprar comida, cozinhar, mastigar, engolir e evacuar.
E trabalhar para comprar comida, cozinhar, mastigar, engolir e evacuar, tudo de novo.
Cansada de trabalhar, cansada de descansar.
Estou cansada de tantas coisas, da matéria, das pessoas, da metafísica, do ciclo vicioso da vida...

Da obrigação de fazer, por que tem que fazer.
São 05h41min da manhã, o ponteiro do tempo não para, e isso me cansa.
Meu retrato na parede ao lado da professora soa bem.
Mas, se aquele retrato tivesse vida, ele estaria também cansado!
Alguma coisa está gritando dentro da minha cabeça.
Dizendo:
- Levante-se!
Mas, estou cansada demais para responder, então me recosto e olho para o teto.

Está tão frio!
Mesmo cansada penso em tudo que eu queria ter feito e não fiz.
Penso em tudo o que não queria ter feito e fiz.
Penso em tudo o que eu fiz querendo ou não querendo que acabou me deixando tão cansada.
Metáforas...
Também estou cansada delas.

Metamorfose.
Fecho meus olhos, ouço o relógio.
E isso também me deixa cansada, irritada!
Por que estou tão cansada?
Dobro minhas pernas, vejo um jogo baralho,  um pote de canetas que eu uso para escrever,
Porta retratos de coisas que fiz, coisas que me deixaram cansada.
Estou não metaforicamente cansada, estou cansada...

Talvez se eu não tivesse usado tantos batons, ou fumado tantos cigarros,
talvez se eu não tivesse feito tantas viagens, ido a tantas festas, talvez se eu não tivesse comido tanto, se eu...

Será?
Não eu tivesse chorado tanto, trabalhado tanto!
Talvez eu não estivesse cansada.
Talvez.
Talvez se, eu tivesse...

Não!
Não sei, talvez...
Por certo incerto, o relógio continua tic-tac, tic-tac...

O sol apareceu, hoje é Domingo.
Vou me deitar.
Acreditando no milagre da vida, de que vou dormir e  acordar novamente,
pronta para viver todas as coisas da matéria.
Para crer ainda não estou...
Então me dei conta que estou cansada de tudo.
Mas, que ainda acredito em milagres!
Então, durmo pensando que não há como fugir deste paradoxo.
Vou me preparar para todas as coisas que me deixam cansada.
Mas não vou me esquecer de que existe milagre!
Tic-tac, tic-tac...

Por: Daniela Dias.