#blog-pager { display: none; }

Biblioteca de Fanzines

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Infância


(Escrevi este poema só por que minha infância ainda é muito presente no meu dia a dia. Recomendo a leitura com a música ‘’Boiadeiro Errante na voz de Sérgio Reis’’.)

Infância

Infância esquecida.
Infância vivida.
Panela de angu com quiabo.
Ambos cozidos nas panelas da velha Amélia
lá no ponto mais alto das escadarias do Morro do Caneco.
Enquanto na vitrola velha tocava (Boiadeiro Errante na voz de Sérgio Reis.)

´´Tocando a boiada, uê, uê, uê, boi
Eu vou cortando estrada
Uê boi
Tocando a boiada, uê, uê, uê, boi
Eu vou cortando estrada.’’

Enquanto isso,  no banco velho de madeira, o tal Zé tocava sua gaita tentando
acompanhar mais ou menos desafinado.
Galinhas pra todo lado!
Café fresco no coador de pano.
À noite no centro de umbanda Vovó Margarida e Preto Velho aconselhando,
o tambor tocando e Zureta chegando.
Uma menina na grimpa da árvore sonhando.
A noite uma oração pro Anjo da Guarda
e uma cama com três mulheres enfeitadas.
(Minha avó, minha prima e eu.)…

E depois de mais uma noite o dia já clareava.
O galo cantava.
O café cheirava.
E minha velha avó estava novamente cozinhando aquele
monte de arroz exagerado com angu e quiabo do lado.
E mais uma vez meu avô com a gaita se arriscava.
Enquanto isso estava tocando a tal vitrola novamente.
E mais uma vez (Boiadeiro Errante de Sérgio Reis.) cantava…

´´Tocando a boiada, uê, uê, uê, boi
Eu vou cortando estrada
Uê boi
Tocando a boiada, uê, uê, uê, boi
Eu vou cortando estrada.’’

Infância esquecida.
Infância vivida.
Panela de angu com quiabo.
E Sérgio Reis tocando Boiadeiro Errante na vitrola ao lado…

(Daniela Dias)