Marisa
Marisa era uma mulher obscura.
Andava flertando nos becos e bares da cidade.
Seduzia homens e mulheres para um sexo casual.
Marisa era instigante e irresistível quando queria.
Suas pernas cruzadas eram o destino de quem a encontrava…
Aquela boca roxa tragando cigarros era mesmo inevitável!
Aquele cabelo tão perfumado, com lindos turbantes bem ajeitados.
Aquelas roupas discretas, unhas sempre a mostra, cumpridas e afiadas;
Ela era obscura, mas seu rosto singelo transmitia certa segurança…
Marisa.
Doce, obscura!
Seduzidos eles tomavam vários goles de bebida destilada com ela.
Quem não tomaria?
Ela sabia falar as palavras certas.
Aqueles olhos provocavam frenesi, seu sorriso salivava qualquer desejo!
Aquela pele negra vitimizava e mascarava seu verdadeiro perfil.
Então seduzidos e embriagados eles entravam no carro dela sem medo.
Ela metia a mão entre as pernas deles enquanto dirigia.
Depois os instigava a enfrentar o medo e querer um sexo perigoso!
Então os levava até algum canto deserto e escuro, que geralmente ficava depois dos becos nos arredores da cidade, e depois de muita sedução ela os asfixiava com sua calcinha até a morte.
Marisa matou a muitos e nunca foi pega…
Nunca foi pega, por que isso tudo não passava de uma grande alucinação de sua mente. Ela tinha transtornos de personalidade e um grande complexo de inferioridade. Volta e meia ela fugia da realidade e depois voltava.
Quando se dava conta, era apenas uma mulher da periferia, robusta, sem tempo pra maquiagens e dinheiro pra turbantes, pois o leite era mais importante.
No fundo o que sabemos de verdade é que Marisa era apenas uma grande leitora de contos eróticos cheios de estereótipos que não lhes correspondiam, além dos transtornos é claro.
Então no único momento de lucidez que lhes cabia, ela tomava seu calmante, punha sua máscara de mulher comum e depois se deitava em seu velho colchão mofado, esperando acordar sendo aquela Marisa obscura, corajosa e atraente que tanto imaginara.
Por entender a grande ficção nisso tudo, ela apenas dormia.
Lia mais livros e livros e se perdia no que lia, dormia.
Marisa!
Obsoleta!
Obscura!
Marisa…
(Daniela Dias)