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Biblioteca de Fanzines

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Marisa

(Classificação; Ficção)

Marisa

Marisa era uma mulher obscura.
Andava flertando nos becos e bares da cidade.
Seduzia homens e mulheres para um sexo casual.
Marisa era instigante e irresistível quando queria.
Suas pernas cruzadas eram o destino de quem a encontrava…

Aquela boca roxa tragando cigarros era mesmo inevitável!
Aquele cabelo tão perfumado, com lindos turbantes bem ajeitados.
Aquelas roupas discretas, unhas sempre a mostra, cumpridas e afiadas;
Ela era obscura, mas seu rosto singelo transmitia certa segurança…

Marisa.
Doce, obscura!
Seduzidos eles tomavam vários goles de bebida destilada com ela.
Quem não tomaria?
Ela sabia falar as palavras certas.
Aqueles olhos provocavam frenesi, seu sorriso salivava qualquer desejo!
Aquela pele negra vitimizava e mascarava seu verdadeiro perfil.
Então seduzidos e embriagados eles entravam no carro dela sem medo.

Ela metia a mão entre as pernas deles enquanto dirigia.
Depois os instigava a enfrentar o medo e querer um sexo perigoso!
Então os levava até algum canto deserto e escuro, que geralmente ficava depois dos becos nos arredores da cidade, e depois de muita sedução ela os asfixiava com sua calcinha até a morte.
Marisa matou a muitos e nunca foi pega…

Nunca foi pega, por que isso tudo não passava de uma grande alucinação de sua mente.  Ela tinha transtornos de personalidade e um grande complexo de inferioridade. Volta e meia ela fugia da realidade e depois voltava.
Quando se dava conta, era apenas uma mulher da periferia, robusta, sem tempo pra maquiagens e dinheiro pra turbantes, pois o leite era mais importante.

No fundo o que sabemos de verdade é que Marisa era apenas uma grande leitora de contos eróticos cheios de estereótipos que não lhes correspondiam, além dos transtornos é claro.
Então no único momento de lucidez que lhes cabia, ela tomava seu calmante, punha sua máscara de mulher comum e depois se deitava em seu velho colchão mofado, esperando acordar sendo aquela Marisa obscura, corajosa e atraente que tanto imaginara.

Por entender a grande ficção nisso tudo, ela apenas dormia.
Lia mais livros e livros e se perdia no que lia, dormia.
Marisa!

Obsoleta!
Obscura!
Marisa…

(Daniela Dias)

(Sua voz)

(Sua voz)

Saudade!
Como não sentiria?
Tenho sido tão covarde!
Tenho sido tão!
Não sei que palavras usar.
Eu tenho tentado te esquecer o tempo todo.
E tentando te esquecer, eu sempre me perco de mim.
Eu me perco nas lembranças.
Já faz tanto tempo!
Preciso de um cigarro urgentemente…

Cigarros!
Fumar também me lembra você.
Cinzeiros, isqueiros, fumaça, cigarros.
Eu!
Às vezes eu me sento diante do mar e me lembro do seu sorriso,
da cor da sua pele e do seu perfume impregnado na minha memória.
Às vezes eu me lembro de quando você pegava aquele maldito violão
sentava-se na minha cama pra tocar e cantar às seis da manhã.
Saudades!
Como não sentiria?
Tenho tentando destruir você aqui dentro…

Eu sou vaidosa demais, e o preço da minha vaidade está sendo bem alto.
Eu sei que o meu orgulho não trará você de volta, nem minha poesia.
Mas o que posso fazer se tudo o que eu consigo, é escrever sobre você?
O que posso fazer se tudo o que eu consigo é sentir esse gosto amargo de saudade?
Olha!
É involuntário.
Eu poderia te garantir isso se você pudesse me ouvir.
Eu nunca esperei o seu perdão.
Eu nunca esperei nada além de apagar você mim…

Às vezes eu me pego andando sem rumo por aí, e quando me dou conta
o mundo é um lugar distante da minha realidade.
Às vezes eu me pego lembrando do seu sorriso.
Sabe com aquele sorrisinho inocente!
Eu tento.
Eu tento!
Eu não resisto.
Quando percebo estou diante do mar novamente.
Quando percebo estou grudada nas fotografias.
Quando percebo estou lá perdida no horizonte,
lembrando de você tocando e cantando com aquele seu maldito violão.
Aqui dentro tudo ainda está do jeito que você…


Amor e ódio andam próximos e é tão estranho sentir saudade.
Por que eu fui tão egoísta?
Por que não te abracei a tempo?
Eu estou sendo guiada pela saudade.
Eu estou inclinada a continuar assim.
Eu gostaria de um abraço!
Eu sei que é impossível.
Eu sei.
Você não está mais por aqui.
Então, mais uma vez vou me perder na fumaça.
Andar, fumar, abarrotar cinzeiros, chorar e escrever poemas sem sentido sobre você.
Mais uma vez eu vou saborear a dor, e dizer o quanto é indiscutível esquecer o som da sua voz cantando pra mim às seis da manhã…

(Daniela Dias)

Ô vontade....