(Aos que pretendem ler, peço que leiam com calma. Pois, este poema precisa ser lido pausadamente, respire fundo ao menos uma vez, este poema traduz uma alma.)
Vinte e Dois de Fevereiro
Hoje eu acordei cedinho.
A cama estava fervendo.
Peguei meu livro sobre o criado mudo.
Desci as escadas do prédio.
Sentei me no jardim do condomínio.
O sol ainda não tinha nascido.
O sereno ainda estava nas flores e folhas.
Encostei-me numa castanheira, depois fui abaixando lentamente para sentar-me.
Lentamente feito que está com o corpo cansado.
Sentei-me.
Abri meu livro predileto na página 27 e li.
Depois fechei o livro.
Li como quem não tivesse lido nada!
Senti uma sensação estranha, uma aparente tristeza pairou sobre mim,
senti-me fria, amarga e cruel com o mundo e comigo mesma.
- Ingrata!
Afinal, o sol já estava nascendo, e os pássaros estavam cantando,
e meus olhos e ouvidos perfeitos, viam e ouviam todas essas maravilhas,
e mesmo assim eu me entristecia.
Senti uma vontade doida de acender um cigarro.
Mas eu parei de fumar a algum tempo.
Não tenho isqueiros ou cigarros, apenas motivos.
Meus olhos marejados não se calaram, entronaram!
Minha garganta apertada solicitou um grito de emergência.
Mas não gritei!
Enquanto eu mergulhava em minha tristeza, meu coração dizia:
- Socorro!
Minha razão dizia:
- Egoísta!
E eu decidi não ouvir nenhum dos dois.
Silenciei.
Engoli a seco.
Eu me dei conta que já era dia.
Eu de pijamas com um livro na mão e a cabeça cheia.
- Porquê? Perguntei a mim mesma.
- Eu sei, sou egoísta! Respondi a mim mesma.
- Há tantos felizes tendo tão pouco ou nada menos do que eu tenho.
- Porque eu não?
- Porquê eu não?
- Porquê?
Olhei para cima, um gato em outra árvore me observava.
Ele estava lá paradinho fixamente me olhando.
Eu cheia de dores e lágrimas!
Eu pensei em tudo, e tudo não deu em manda.
- Sou extraordinária!
- E culpada pela falta de nós, fitas e laços.
Amável, amarga, silenciosa.
Levantei sem forças.
Subi as escadas.
Coloquei o livro de volta no criado.
Coei um café fresquinho.
Tomei um banho frio.
Vesti meu uniforme, calcei meus sapatos gastos.
Me servi com meia xícara de café amargo, duas colheres de açúcar.
Bebi.
Peguei minha bolsa sobre o sofá.
Então desci as escadas novamente.
Hora de trabalhar.
Nos fones de ouvido (Vanessa da Mata).
Sem mais, hoje não foi um dia como qualquer outro.
Hoje é vinte e dois de Fevereiro.
O dia em que a tristeza pairou sobre mim.
No próximo ano descreverei esta mesma data, como alguém que sente
a esperança da mudança. Como alguém que pretende estar respirando neste dia.
Fim do trajeto!
O mundo não para, eu também não posso parar.
Eu sou o ponto de mágoa.
E estou em busca de paz.
Adeus, até ano que vem! Digo a mim mesma.
Enquanto caminho.
O meu coração não para!
Não para.
E o sol está no meio do céu.
Por: (Daniela Dias)