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Biblioteca de Fanzines

terça-feira, 14 de março de 2017

Sua voz

(Sua voz)

Saudade!
Como não sentiria?
Tenho sido tão covarde!
Tenho sido tão!
Não sei que palavras usar.
Eu tenho tentado te esquecer o tempo todo.
E tentando te esquecer, eu sempre me perco de mim.
Eu me perco nas lembranças.
Já faz tanto tempo!
Preciso de um cigarro urgentemente…

Cigarros!
Fumar também me lembra você.
Cinzeiros, isqueiros, fumaça, cigarros.
Eu!
Às vezes eu me sento diante do mar e me lembro do seu sorriso,
da cor da sua pele e do seu perfume impregnado na minha memória.
Às vezes eu me lembro de quando você pegava aquele maldito violão
sentava-se na minha cama pra tocar e cantar às seis da manhã.
Saudades!
Como não sentiria?
Tenho tentando destruir você aqui dentro…

Eu sou vaidosa demais, e o preço da minha vaidade está sendo bem alto.
Eu sei que o meu orgulho não trará você de volta, nem minha poesia.
Mas o que posso fazer se tudo o que eu consigo, é escrever sobre você?
O que posso fazer se tudo o que eu consigo é sentir esse gosto amargo de saudade?
Olha!
É involuntário.
Eu poderia te garantir isso se você pudesse me ouvir.
Eu nunca esperei o seu perdão.
Eu nunca esperei nada além de apagar você mim…

Às vezes eu me pego andando sem rumo por aí, e quando me dou conta
o mundo é um lugar distante da minha realidade.
Às vezes eu me pego lembrando do seu sorriso.
Sabe com aquele sorrisinho inocente!
Eu tento.
Eu tento!
Eu não resisto.
Quando percebo estou diante do mar novamente.
Quando percebo estou grudada nas fotografias.
Quando percebo estou lá perdida no horizonte,
lembrando de você tocando e cantando com aquele seu maldito violão.
Aqui dentro tudo ainda está do jeito que você…


Amor e ódio andam próximos e é tão estranho sentir saudade.
Por que eu fui tão egoísta?
Por que não te abracei a tempo?
Eu estou sendo guiada pela saudade.
Eu estou inclinada a continuar assim.
Eu gostaria de um abraço!
Eu sei que é impossível.
Eu sei.
Você não está mais por aqui.
Então, mais uma vez vou me perder na fumaça.
Andar, fumar, abarrotar cinzeiros, chorar e escrever poemas sem sentido sobre você.
Mais uma vez eu vou saborear a dor, e dizer o quanto é indiscutível esquecer o som da sua voz cantando pra mim às seis da manhã…


(Daniela Dias)

Surpiro

Suspiro!

Já delirei de amor,
já delirei de sedução.
Já delirei no  orgasmo,
já delirei de paixão...



Hoje eu prefiro suspirar!
Abandonei os delírios por opção.
Suspiro de amor,
suspiro de sedução,
de sentir minhas partes debaixo
e de viver qualquer ilusão...



Suspirar!
Isso sim faz o coração enlouquecer!
Isso sim marca o lógico,
Isso sim faz o corpo tremer...



É tão bom sentir os pés fora do chão!
Imagine uma vida bem linda.
Com suspiros e admiração;
Agora acredite no que está imaginando
e com suspiros vá conquistando.


Escolha Suspirar!
Suspirar é bom!
Delírio é coisa de momento.
Eu tenho certeza que você quer
coisas boas pra vida toda.
Escolha suspirar por dentro.


Mergulhe!
Suspire...

Por: Daniela Dias.

Tal Genética!

Sobre a tal genética, uma corrente que me prendia.
Doei para esta tal corrente, muito mais do que eu realmente podia.
Doei de mim, doei tanto, que de tanto fiquei vazia, acabou-se tudo,
até minha poesia…


(Daniela Dias)

Tantas!

Um breve pensamento:

'' Tantas pessoas, tantas verdades!
Tantas pessoas com verdades em tanto!
Tantas pessoas com tantas verdades!

Afinal eu me pergunto:

- Quantas verdades?
- Quantas para quantos?
- Quantas para que?
- Quantas para tantos?
- Tantas para tantos?
- Tantos para tantas?
- Poucas para tantas?
- Poucas para tantos?
- Tantas para poucos?

Ah!
São tantas pessoas,
são tantas verdades!
E isso é só um pensamento
rodeado pelos tantos, cantos...''


Por: Daniela Dias.

Tarde na Ilha

(Escrito a partir de uma tarde agradável no Restaurante Teresão na Ilha das Caieiras.)

Ilha das Caieiras, Vitória/ES - 30 de Janeiro de 2016.

Tarde na Ilha

Eram quatorze horas, o dia estava lindo!
A Ilha irradiava!
Procurávamos um lugar tranqüilo para comer e conversar.
Logo no estacionamento um rapaz nos abordou com muita simpatia 
nos convidando a conhecer o restaurante onde trabalhava.
Ficamos na dúvida, eram muitos restaurantes, de qualquer forma
a abordagem e os argumentos eram bons, então fomos até lá.

Restaurante Teresão;
Chegando lá o ambiente era mesmo agradável, o que nos faltava era ter a certeza no paladar.
E lá veio ela com um andar calmo nos atender.
Era a garçonete.
E vou te contar, ela tinha uma aura brilhante!
Coisa de gente cheia de paz…

Garçonete;
Ela sorriu com um sorriso bem grande.
Nos cumprimentou, ajudou escolher um bom lugar no restaurante e ofereceu o cardápio.
Recomendou os melhores pratos da casa enquanto sorria e movia a caneta e o bloco de pedidos sem pressa.
Ela era paciente, qualidade difícil nos dias atuais.
Enquanto aguardava escolhermos o pedido, ela conversava, movia o corpo com leveza
entre o pedido e a conversa.
- Pura calma…

Pedido;
Eddy demorou pra escolher, enquanto isso eu que já sabia o que queria,
conversava com a garçonete.
Ela me comovia com sua confiança na cozinheira da casa, que a propósito ela não se cansava de elogiar.
Eu podia escolher qualquer prato a partir das palavras convincentes dela.
Principalmente por que eu notava sua confiança na cozinheira.
- Eu poderia comer qualquer coisa dali com os olhos fechados…


Ela;
Por fim escolhemos uma, duas, três casquinhas de siri, batatas fritas e outras gordices.
Na verdade, tínhamos mais vontade de conversar com ela do que comer,
tamanha era sua doçura e serenidade.
Gentileza, simplicidade e pequenos olhos castanhos de cílios grandes a descrevem bem.
Lábios carnudos, voz calma, corpo robusto, brilho na alma.
Ela nos serviu, indiciou a mariscada da casa para uma próxima oportunidade,
o que realmente acontecerá em breve…

Realmente a cozinheira merecia todos os elogios e a confiança.
Depois que pagamos a conta, na despedida perguntei o nome dela.
(Emily)
Emily respondeu ela sorrindo novamente.
E já são uma hora da manhã e cá estou seu, escrevendo sobre a tarde agradável do dia 30 de Janeiro, no Restaurante Teresão, onde comi pratos inesquecíveis, a melhor casquinha de siri da minha vida, servidos com todo carinho e atenção por Emily.
 A garçonete mais doce que tive o prazer e a honra de ser atendida nos últimos tempos.
Emily.
Assim feito ela, seu nome é poesia.
Emily simplicidade!
Emily alegria.
Emily!
Á poesia…

‘’E assim terminou nossa tarde na Ilha;
Paz, comida e poesia…’’

(Daniela Dias)






Tatuagem

(Poema escrito a partir de uma pesquisa sobre o tema, e da observação diária no cotidiano.)

Tatuagem.
Cultura!
Arte!
O auge da moda!
Uma modernidade distante,
tatuagem também é arte?
Sim!
Arte constante...

Tatuagem.
Cultura!
Arte!
De igual para igual,
numa conversa obstante,
tatuagem não vem de ontem.
É uma arte protestante...


Tatuagem.
Cultura!
Arte!
O que se sabe?
Sabe-se, que o ato de tatuar o corpo
é tão antigo quanto à humanidade
em um todo torto.
Tatua-se um corpo vivo!
Tatua-se um corpo morto!
(Metaforicamente)

Ate!
É arte!
Arte de representação.
Arte abstrata.
Arte de revolução!
Na antiguidade reconhecia-se pela tatuagem o povo de uma nação.
A tatuagem marcava o povo escravo, os lutadores e até o tipo de religião...


Tatuagem.
Cultura!
Arte!
Na idade média foi marginalizada!
Pela igreja foi apontada, pelo homem, banalizada.
E a fé quase baniu a expressão de arte que ao tempo resistiu.
-A tatuagem!
Tatuagem é arte!
Arte casual, arte visual, arte sem igual...

Tatuagem.
Cultura!
Arte!
(Atualidade)
Hoje voltou a ser expressada,
sem os moldes do preconceito!
Arte é conceito!
Arte é respeito!
E a tatuagem novamente marca uma passagem.
É povo se socializando.
É o povo se tatuando...

E até eu que morro de medo de agulha,
é que meramente só gosto de escrever,
já quis tatuar mil coisas e frases ensaiadas.
Mas, no fim das contas nunca deu em nada!
Eu com minha inconstância tatuei-me na memória apenas...

Como poetisa covarde que sou,
um trocadilho nos versos vou perpetuar.
Gravo em versos a tatuagem, no meu sistema de engrenagem.
Antes que abrace de fato esta arte em forma de tato.
Talvez eu decida algo aqui, ou algo ali.
Algo em cima, algo em baixo.
Algo no centro, algo no alto.
Algo exuberante ou algo discreto instigante.
Ah!
Se vou eu não sei, se sei eu não marco.
Só sei que tatuagem é arte!
Arte!
Feito pintura ou retrato.
Feito este poema pacato...

Por: Daniela Dias.


Te amar!

(Dezembro de 2011)

Te amar!

Amarguras, desprezo, desventuras!
Te amar me fez tão bem por um tempo,
mas logo  depois  me arrasou ligeiramente!
Te amar me enfeitiçou por um bom momento,
mas logo depois me fez sentir  o que é dor, fez um tumor aqui dentro!


Amarguras, desprezo, desventuras!
Você e eu sabemos muito bem que nem sempre foi assim.
Já fomos largos sorrisos de uma alma para a outra.
Te amar á foi o torpor da vida,
mas l logo depois o mesmo amor me amargou.

Amarguras, desprezo, desventuras!
Te amar me fez tão bem por um tempo,
mas logo  depois  me arrasou ligeiramente!
Te amar já me fez feliz algum dia!
Te amar já foi bonito!
Te amar já me elevou as nuvens!
Te amar já foi  incrível!
E hoje não sabemos como, não sabemos quando.
Mas sabemos!
Este amor me amargou...

Amarguras, desprezo, desventuras!
Você e eu sabemos muito bem que nem sempre foi assim.
Já fomos largos sorrisos de uma alma para a outra.
Tudo é simples, singelo!
Nada era calculado ou rotulado.
A cancela do estacionamento do shopping era motivo de sorrisos.
Enquanto a secretária eletrônica dizia ‘’(Agradecemos a sua visita, volte sempre)’’ nós sorriamos e dizíamos, ‘’(Agradece mesmo, por que foram R$6,00!)’’
Tudo era lindo!
Até mesmo a ironia da cobrança do estacionamento.
Mas, sabemos!
Infelizmente sabemos!
Te amar me amargou...

Amarguras, desprezo, desventuras!
Te amar me fez tão bem por um tempo,
mas logo  depois  me arrasou ligeiramente!
‘’O lanche demorado do drive- thru!
Tudo refletia!
A falta de tempo e os exageros. ’’
Te amar já me fez feliz!
Mas, hoje estou petrificada!

Amarguras, desprezo, desventuras!
Você e eu sabemos muito bem que nem sempre foi assim.
Já fomos largos sorrisos de uma alma para a outra.
Não te amar era impossível!
Mas, te amar me arrasou.
‘’O cigarro com gosto de canela, o kipp Cooler de morango,
os chicletes de melancia, o perfume de ameixa. ’’
Entende? Todas as coisas que eram sintonias,  agora são só agonias!
Te amar me arrastou para um lado invisível...

 Ah! Te amar!
Amarguras, desprezo, desventuras!
Te amar me fez tão bem por um tempo,
mas logo  depois  me arrasou ligeiramente!
Te amar me enfeitiçou por um bom momento,
mas logo depois me fez sentir  o que é dor, fez um tumor aqui dentro!
E o que eu sei é que estou seca por dentro.
Te amar me levou ao tormento.
Eu não lamento, eu me contento!
Pois, te amar já me proporcionou um momento...

Por: Daniela Dias.




Teatro

(Teatro)

O tom da música fazia estadia, moradia poesia.
E a imensidão do sentimento fazia um breve repousar nas
nuvens sem sabores que decoravam o céu da minha boca
enquanto eu me despia, enquanto eu me despedia;
A música fazia…

Outro dia ouvi aquela música, lembra?
Lembra? Diga que se lembra!
Sabe, daquela música que fazia a gente florir em noites de inverno
e viajar sem sair do lugar para qualquer estação!
O tom da música fazia estadia, moradia, poesia.
Ah, a música fazia…

(Teatro)

Olha!
Caso você tenha se esquecido, vou descrever como era quando nos amávamos:
‘’Você me ligava dizendo que viria, eu me arrumava pra te esperar.
Você apertava a campainha, eu abria a porta sorrindo.
Nós nos olhávamos.
O silêncio pairava.
Você entrava e se sentava no meu velho sofá.
Eu te oferecia café e você nunca aceitava.
Eu falava milhares de palavras e você apenas assentia que entendia.
Eu tomava milhares de cafés, te pintava, te desenhava, te escrevia, te descrevia!
Enquanto isso aquela música a gente ouvia!
Uma, duas, três, vinte, trinta, quarenta vezes.
Sorríamos!
O tom da música fazia estadia, moradia, poesia.
No mundo inteiro era apenas você, eu, meus cafés, meus cigarros, sua vodka,
minhas mãos, seus olhos pequenos e brilhantes, o sofá velho, aquela música e a despedida.
Lembra daquela cadeira velha, lembra?
Diga que se lembra!
Daquela que eu me sentava para observar você no canto da sala com o corpo entornado no meu sofá, enquanto pousava pras minhas fotografias, enquanto a música tocava…
Enquanto meu coração delirava de amor.
Foi uma cortina de ilusão, eu sei.
Foi puro egoísmo.
Foi teatro.
Foi imaturo a maior parte das vezes.
Foi arte.
Foi amor.
Um amor puramente teatral.
Mas ainda que tudo tenha sido apenas um teatro, nós nos amávamos enquanto
estávamos em cena...Mas um dia a peça acabou. E eu só preciso que você não se esqueça,
eu só preciso que você saiba que não esqueci. Foi boa encenar com você. Foi bom…’’


(Teatro)

Estou hoje feito moribunda relembrando aquela peça que nos pertenceu.
Estou ouvindo aquela velha música, tomando sua vodka, sentindo o gosto do duplo sentido.
-Sentindo.
Sem saber, se é dor, saudade ou vaidade.
Hoje estou pensando em você.
E a imensidão do sentimento momentâneo está fazendo um breve repousar nas
nuvens sem sabores que decoram o céu da minha boca, enquanto sinto o gosto do sal…
Foi teatro!
Eu sei.
Mas naquele momento era real, nós nos amávamos…

(Daniela Dias)



Tempo Real

Tempo Real
Escrever me denuncia!
Me mostra de dentro para fora.
Escrever me denuncia!
Mostra minhas dores profundas, meu vazio, minha solidão,
minha falta de calma, minha arrogância, minha alma.

Escrever me denuncia!
Me mostra nas entre linhas.
E o que eu penso disso?
- Penso que escrever me denuncia!

E eu continuo vivendo, levando minha vida escrevendo.
Escrever me denuncia!
De forma que escrever não incomoda, nem mesmo pelo fato de
que minha escrita me denuncia.
Durmo, acordo, durmo, acordo, durmo, acordo escrevendo...

(Escrevo e depois de algum tempo eu publico.)

Escrever me denuncia!
E o que penso disso?
- Denuncia!
É claro que me denuncia!
Mas, o fato é que nunca o meu presente.
Por que eu não me mostro em tempo real.
Escrever, escrever, escrever...

Me denuncia!
E daí?
O tempo não é real.
E eu nunca vou parar, enquanto existir papel,lápis, caneta e ar nos meus pulmões
Eu vou escrever sobre tudo, inclusive sobre o que me denuncia...

(Ao leitor apenas informo, eu nunca estou em tempo real.)


Por: Daniela Dias.

Tempo

T
e
m
p
o

     Gosto

                      S
                      o
                      l                  

                           (LÁGRIMAS DE CHUVA)

                                                                         Lábios de Sal…

Ah!
O tempo.
O gosto.
O sol.
Nada de lágrimas com gosto de chuva.
Nada de lábios com gosto de sal.

Aprenda!
O tempo não cura nada.
O gosto às vezes acaba.
O sol de vez em quando acalma.
O gosto de chuva uma hora passa.
Mas o gosto da dor nos lábios não…

Aprenda!
De uma vez por todas entenda!

T
e
m
p
o

     Gosto

                      S
                      o
                      l                  

                           (LÁGRIMAS DE CHUVA)

                                                                         Lábios de Sal…


Ah!
O tempo.
O gosto.
O sol.
(O relógio da vida não para.)

 E O TEMPO?
- ELE NÃO CURA NADA…

Daniela Dias.

Terceira Pessoa

Terceira Pessoa

Daniela na terceira pessoa.
O que ela escreve não importa.
Ela disfarça as dores.
Ela engole o choro.
Ela prende a língua.
Sente no peito uma porta fechada.
Grita! Grita!Grita!
Mas não ecoa nada…

Dura.
Vaidosa.
Chora silenciosamente no chão.
De vez em quando estende a mão.
Soca o estômago para lembrar que ainda existe dor.
Sorri e canta uma música para lembrar que ainda existe amor.
Bate o pé na quina da cama.
Inflama!
Diz que odeia, mas ama…

Fria.
Vazia.
Torta com apatia.
É altamente suicida.
Sua mente, um varal.
Seus sentimentos, um sarau.
Parou de comer animais.
Mas nunca deixou de ser um.
Ela é o cão.
É ela é um caos…

(Um baú de memórias.)
Daniela na terceira pessoa.
Como eu gostaria de amá-la!
Por não conseguir, vou matá-la.
Antes que ela tome o controle e me mate…

Nascendo
1.985, 1.986, 1.987, 1.988, 1.989, 1.990, 1.991, 1.992, 1.993, 1.994, 1.995, 1.996, 1.997, 1.998, 1.999, 2.000, 2.001, 2.202, 2.003, 2.004, 2.005, 2.006, 2.007, 2.008, 2.009, 2.010, 2.011, 2.012, 2.013, 2.014, 2.015, 2.016…

Morrendo
…2.016, 2.015, 2.014, 2.013, 2.012, 2.011, 2.010, 2.009, 2.008, 2.007, 2.006, 2.005, 2.004, 2.003, 2.202, 2.001, 2.000, 1.999, 1.998, 1.997, 1.996, 1.995, 1.994, 1.993, 1.992, 1.991, 1.990, 1.989, 1.988, 1.987, 1.986, 1.985

(Terceira Pessoa)
Ah! Como eu gostaria de amá-la.
Por não conseguir, aos poucos vou a memorizando,
desmemoriando, ano a ano ruminando.
Matando, matando, matando!
Matando-a!
Para que não me mates.
Da-ni-e-la
A terceira pessoa…

Daniela Dias.



(Testando Reações)

(Testando Reações)

Tem coisas que eu faço que os amigos não sabem.
Mas eu faço!
Eu gosto de observar as reações das pessoas.
Sei lá!
Parece coisa de gente louca.
Mas eu nunca fui lúcida mesmo…

Num dos meus aniversários minha amiga Gel me deu uma blusa com estampa de rock.
Ora! Ela ama rock. Ao contrário de mim, que gosto, mas não amo tanto assim.
De qualquer forma agradeci e me prometi usar o presente.
(Então um dia eu vesti a blusa pelo lado avesso e saí.)

Ao sair de casa o porteiro de meu bom dia e me avisou que vesti a blusa pelo avesso.
Ao chegar no ponto do ônibus uma mulher me abordou sobre a blusa também.
No ônibus sentei perto do cobrador, e ele me disse a mesma coisa.
No fim do dia ao voltar para casa, meu filho me alertou sobre a tal blusa.

Resultado:
Fiquei impressionada com o incômodo das pessoas em relação a uma blusa pelo avesso.
Afinal!
Uma pessoa não pode simplesmente ter vestido uma blusa pelo avesso por que quer?
Os avisos podem ter sido apenas por um cuidado.
Certo?
Errado!
‘’ Quando roupas com costura pelo avesso estão na moda ninguém se incomoda, ao contrário, todo mundo usa. ’’

Realidade:
Ninguém se incomoda por uma pessoa dormir nas ruas.
Ninguém se incomoda com abusos sexuais.
Ninguém se incomoda com homicídios.
Ninguém se incomoda com as coisas que realmente incomodam. (Ou pelo menos deveriam incomodar.)

Então:
Por que com a blusa pelo avesso?
Por que com o batom da fulana.
Por que com a sexualidade?
Por que com a saia curta?
Por que isso?
Por que aquilo?

Sobre aquele dia:
Bem, durante o dia inteiro a resposta foi à mesma.
(Não! Eu vesti pelo avesso por que eu quis!)
E a cara de espanto era ainda maior.
Era como todos precisassem de uma explicação lógica,  para o simples fato deu ter querido vestir uma blusa pelo avesso.
Como se o fato deu querer já não fosse lógico.

Testando emoções:
Depois deste dia resolvi que pelo menos uma vez por mês eu vestiria aquela blusa pelo avesso e sairia por aí. (O que tenho feito.)

Motivos:
*Primeiro, por que eu gosto do corte e da malha da blusa, mesmo que não goste tanto da estampa. (E gosto da cor.)
*Segundo, por que não gosto da estampa, mas gosto muito da blusa. (E foi presente.)
*Terceiro, só pra ser resistência de alguma forma. (Eu quero, eu posso.)
*Quarto, para testar as reações. (Não deveria, mas gosto.)
*Quinto, por que sim. Como se por que sim fosse resposta plausível. Por que sim.

Emoções:
E eu tenho feito isso há no mínimo dois anos.
E é sempre assim.
(Avesso! Ei avesso! Avesso! Avesso! Ei avesso! Avesso!))
(Eu que quis. Eu que vesti. Eu quis! Eu que quis. Eu que vesti. Eu quis!)

Bem, eu sei que isso não vai mudar nada no mundo ou na sociedade que faço parte.
Mas não importa.
- Sou resistência.
Eu gosto daquela blusa independente da estampa.
Eu gosto dela pelo avesso.
Eu vou usá-la…

Tem coisas que eu faço que os amigos não sabem.
Mas eu faço!
Eu gosto de observar as reações das pessoas.
Sei lá!
Parece coisa de gente louca.
Mas eu nunca fui lúcida mesmo…

(Fora isso pra testar reações eu faço muitas outras coisas, uma delas é avistar alguém de longe e começar a falar e gesticular sozinha. Falar alto! Abraçar paredes, árvores, lixeiras, orelhões. Só pra ver como as pessoas se portam.)

As reações são sempre as mesmas.
(Você está bem? Você está sozinha? Você precisa de ajuda?)
As respostas são sempre as mesmas.
(Não! Eu estou bem, eu quis abraçar, eu gosto de falar... Eu gosto! Eu quis…)
As caras de espanto são sempre as mesmas.

Fora isso da minha falta de lucidez, é o que eu sempre digo.

‘’Duvido que se eu precisasse mesmo, ou se eu parasse as pessoas pra dizer que eu preciso de abraços, ou de ajuda, ou ser ouvida se alguma delas me ajudaria.
Para não ser injusta, de repente até poderia ter alguém sincero na multidão.
Mas seria numa proporção uma em um milhão.’’

E o que eu penso disso?

-Nada!
-Dani-se!

(Eu vou continuar fazendo isso por aí pela vida até enjoar, por que eu quero, por que eu posso, por que sou doida! E até mesmo egoísta…)

Tem coisas que eu faço que os amigos não sabem.
Mas eu faço!
Eu gosto de observar as reações das pessoas.
Sei lá!
Parece coisa de gente louca.
Mas eu nunca fui lúcida mesmo…

Conclusão:

Eita presente bom!
Minha blusa com estampa de rock!
É muita emoção envolvida, sentida e testada.
1.2.3…
------------------TESTANDO!---------------------------
1.2.3…

(Daniela Dias)



Amor inocente!

(Escrito para minha querida amiga Thauany)

Amor inocente!

Quando eu ainda era menina o mundo não era um lugar gigante.
E a inocência era meu maior tesouro.
Eu amava os raios do sol e o cheiro da chuva.
Eu amava ver as pequenas moitas de capim crescendo.
Eu esperava ansiosa pelo tal capim verdinho…

Eu esperava as moitas ficarem bem grandinhas só pra sentir o prazer de me deitar nelas.
Eu mergulhava naquele capim, rolava pra lá e pra cá sem medo de acontecimentos.
Sem preocupações com insetos ou bichos, sem arrependimento por ficar com o corpo
todo coçando.
Era um mergulho inocente!
Uma das melhoras sensações que eu sentia.
O cheiro das folhas amassadas ainda está impregnado nas paredes da minha memória.
Ah, o capim!
O capim fez parte da minha história…

A sensação de felicidade de me abraçar naquelas moitas verdinhas
era mesmo indescritível!
Deitar e rolar naquelas folhas verdinhas era o que me emocionava.
Era um mergulho inocente!
Ainda me lembro de minhas gargalhadas somadas as da minha irmã.
Acho que me lembro de vento por entre as folhas.
Era um mergulho inocente…

Minha ligação com aquele capim era tão grande,
 que de tão grande eu até o comia.
Eu amava o capim!
Não a ponto de comê-lo, mas o amava.
Era um amor inocente!

Comia-o por pura crendice, folclore, inocência, superstição.
Comia por acreditar que me traria sorte e que me livraria do tal chicote.
Era inocente!
Era lindo!
Era doce ter aquele coração.
Ai que saudade daquele tempo em que o mundo não era imensidão.
Ai que saudade de mim menina rolando no capim do Maranhão…

(Daniela Dias)








Tia

(TIA)

Eu tinha treze anos.
Ela me abriu uma porta.
Me deu casa, comida e ensinamentos.
O que aprendi nos poucos dias em sua companhia;
A palavra Jeová.
Tomar café em vez chá!
Tragar cigarros de filtro vermelho.
Me olhar no espelho.
Ouvir Raul Seixas.
Deixar crescer as madeixas!
Trabalhar, costurar, bordar sem queixas…

Auto medicação.
Ponto cruz, crouchê e cuscuz
Ajoelhar, orar, acreditar na luz.
Minha tia.
Quando eu precisei, ela me abriu uma porta.

A mesma por que ela abriu, eu mesma a fechei.
Fechei quando acreditei que meu lugar não era com ela.
Em vão…
Ah! Se eu soubesse o quanto seria duro pra mim fechar aquela porta!
Ah! Se eu soubesse que logo depois seu sorriso se apagaria.
Eu não lamento sobre isso.
Ela me abriu a porta e eu fechei…

Isto aqui é só pra registrar.
Isto aqui é só pra não ficar apagado ou esquecido aquele gesto dela.
Como eu poderia me esquecer de quem me abriu a porta quando eu mais precisei?
Treze anos!
É…
Escrevo apenas para registrar que ela me abriu uma porta.
Me amou mais do que eu merecia.
Brigou por mim e me mostrou como era duro amar.
Mas eu…

Todos os dias ela saia cedinho com seu jeans claro de cintura alta,
camisetas de botão, fones de ouvido com Raul no último volume.
Ela abriu-me uma porta.
Eu a fechei.
Eu me fui.
Ela ficou.
Eu fiquei.
Ela se foi.
Ela se foi.
Ela se foi.
E eu fiquei pra nunca me esquecer daquela porta aberta e fechada.

Eu tinha treze.

Eu nunca tive chance de agradecê-la por aquela porta aberta.
Em algum lugar aqui dentro de mim ela ainda existe.
Ela tem um canto só dela.
Tia.
Marilza.
Mauriza.
Marisa.
Meu mar, minha brisa.
A nuvem que deságua em meus olhos!
Fechei.
Eu fechei a porta…

(Daniela Dias)




Tornado

Tornado

Depois de tanto morrer de saudades
e ainda sim permanecer viva,
ainda que com uma lacuna no peito por sentir sua falta, consegui.

Depois de pular mentalmente inúmeras vezes da ponte mais alta da cidade,
por não suportar mais a dor, o medo, a tristeza, a saudade, a decepção e a
falta que você fazia, ainda sim consegui.

Depois de tanto deitar sobre uma cama de espinhos só por considerar que isso me deixaria mais perto de você eu acabei por ficar ferida e desabada.
Foi muito o tempo que perdi para conseguir me levantar, ainda que isto tenha me custado alguns anos e alguns rios de lágrimas. Eu consegui.

Primeiro o destino deu um jeito de nos encontrarmos.
Depois nos encontramos.
Depois nossos olhos se enxergaram.
Depois nos permitimos.
Depois no entrelaçamos.
Éramos almas feitas uma para a outra.
Então o amor aconteceu.
Depois o mesmo amor que chegou, partiu.
Deixou-me em pedaços.
Depois minha alma feriu.
Depois meu olhar alagou.
E minha essência?
Ora morreu, ora ressuscitou.
Depois meu coração sofreu.
De tanto flagelo endureceu.

Depois de tanto morrer de saudades e ainda sim permanecer viva,
ainda que com uma lacuna no peito por sentir a sua falta, consegui.
Finalmente consegui!
(Consegui restabelecer minha alma, meu corpo, meu coração, meu juízo, meus sentimentos, minha direção. Consegui me recuperar deste tornado que foi amar você.)

Por: Daniela Dias.



Transparência

Transparência

Por quê?
Por quê?
Por quê?

- Por que você se esforça tanto para parecer
algo que nada verdade você tem a certeza de não ser?
Por que você se trai dessa forma?
Por que mente para si mesmo (a) tentando ser alguém que 
você sabe que não é?
O relógio não para...

Mascaras!
Conflitos!
Encenações!

- Por que você mata sua alma se alimentando
com um veneno diário que não tem antídoto para curá-la?
Um conselho!
Um sábio conselho.
Seja você mesmo (a).
Não mate sua alma!

Por quê?
Por quê?
Por quê?

Sabedoria!
(O relógio não para.)

Por: Daniela Dias.


Transtorno no Trajeto das 18:00 horas.

(Crítica)

[ Este texto foi escrito e publicado em outra rede social no verão de 2014. Descrição de uma realidade.]

Transtorno no Trajeto das 18:00 horas.

Eram quase 18:00 horas, e eu estava num ônibus abarrotado de gente.
Eram quase 18:00 horas, e eu estava lendo meu livro Guerra das Salamandras.
Eram quase 18:00 horas, e eu estava de pé, dentro de um ônibus abarrotado de gente.
Eram quase 18:00 horas, e o calor estava quase insuportável.
- Verão!

Eram quase 18:00 horas, e quase todos nós estávamos de pé.
Eram quase 18:00 horas, quase todos de pé dentro daquele ônibus abarrotado de gente.
Eram quase 18:00 horas, e mesmo assim estávamos de pé.
Eram quase 18:00 horas, e mesmo assim estávamos firmes segurando para não cairmos uns sobre os outros a cada curva.
Eram quase 18:00 horas...

- Verão!

Eu trabalho num escritório por oito horas diárias que quase sempre excedem.
Na maior parte deste tempo eu fico só com a burocracia e a papelada.
Meu chefe nem sempre fica por lá.
Estou citando isto, para explicar o por que de alguma coisa sem sentido.
Então quando eu ando por aí, no supermercado, na feira ou em ônibus abarrotados, 
eu acho válido perceber o que acontece a minha volta. 
Por que na maior parte do tempo eu fico sozinha.
Por exemplo, hoje quero registrar o transtorno no trajeto das 18:00 horas...

- Verão!

Quando eram quase 18:00 horas deste dia, neste ônibus por exemplo,
eu notei um monte de corpos de pé, um monte de gente.
Gente lendo, gente rindo, gente falando, gente rezando terço, gente comendo
ou fazendo o filho parar com o choro.
E você deve estar se perguntando por que estou descrevendo este cenário.
Isso é tão comum! 
É tão comum ônibus abarrotado de gente as 7:00, as 08:00,  ou de 17:00 as 18:00...

De repente o ônibus foi parado.
No meio da trajeto, homens de farda, blitz no asfalto!
Todos atentos!
O que seria?
Fechei meu livro na página 62, Karel Kapek há de me perdoar,
mas A Guerra das Salamandras agora pode esperar.
Pus-me a observar!
E não somente eu, como todos que estavam ali ocupando em uma determinada circunstancia
compartilhando o mesmo ar, o mesmo tempo e o mesmo espaço.
Todos os que preenchiam de pé o ônibus abarrotado se incomodavam e murmuravam...

Três jovens negros do ônibus foram retirados.
Do lado de fora, foram revistados.
Enquanto do lado de dentro pude notar:
- Sem drogas, sem armas e nenhum celular.
E mesmo assim não foram liberados...

Eles gesticulavam:
- Por quê?
Eu me perguntava:
- Por quê?
Já sei!
Pelo pecado?
- Jovens negros de cabelos pintados!
Bandidos?
-Talvez!
Mas vejam só que insensatez!
Três jovens negros, sem armas, sem drogas, sem celulares
e não liberados, passaram de pardos, ah!
Deve ser por isso!

A verdade é que eles já foram condenados,
sem ao menos serem julgados,
sem ao menos terem extraviado.
Sabe por quê?
- Por nasceram negros, por que seus cabelos pintaram,
por que nasceram pobres,
por que não estudaram.
Por terem nascido neste país já foram condenados.
Estamos todos exaustos!
Eles, eu, e os outros...

Já passavam das 18:00 horas, e o sol já havia baixado.
Já passavam das 18:00 horas, e o calor continuava.
Já passavam das 18:00 horas, e o meu livro continuava fechado.
Já passavam das 18:00 horas, e todos no ônibus já estavam cansados.
Já passavam das 18:00 horas, e o desfecho deste trecho?
Já passavam das 18:00 horas, e o ônibus foi liberado.
Cheio de pessoas, abarrotado!
Enquanto isso!
Uns aliviados...


Já passavam das 18:00 horas, e o motorista arrancou 1ª, 2ª,3ª marcha.
E todos aqueles dentro do ônibus se sentiam injustiçados.
Por conta de três negros estavam atrasados!
Por conta de três negros estavam suados.
Alguns assim falavam:
- São bandidos!
São pretos!
São vagabundos!
São macacos!
Engoli o fel a seco, enquanto isto me doía o peito...

E eu me perguntei:
- Desço, cresço, retruco, imploro ou choro?
Já passavam das 18:00 horas, e meu inconsciente,
meu juízo perfeito, lastimando o mal dizer, o deleito.
Comandou que uma de minhas mãos se levantasse e puxasse a cordinha do sinal.
Razoavelmente ainda que não querendo, decidi descer.
Enquanto uns julgavam uma mulher dizia indignada:
- Pobre e negro não tem direitos a nada neste país!
E ela dizia com indignação como se fosse uma negra.
Mas não era!
Era branca!
Preciso declarar.
A única mulher que dizia esta frase em defesa não só daqueles três jovens
como de uma etnia, era branca!
Uma mulher branca no trajeto das 18:00 horas...

Diferentemente dos que julgavam, pois, estes eram outros negros,
religiosos com bíblias, mães com bebês, mães com bebês negros acalentando o choro.
Filhos negros deste país, bebês que vão crescer e pegar ônibus abarrotados sem suas
mães para protegê-los daqui alguns anos.

Confesso!
Foi duro!
Quem me conhece na intimidade sabe que sou uma Daniela incapaz de aceitar conviver
com tal condição. [Desproteção].
Já passavam das 18:00 horas, e eu abandonei a emoção por no máximo dois minutos.
Já passavam das 18:00 horas ,e eu fiquei dentro daquele ônibus abarrotado agindo racionalmente enquanto o ônibus não parava.
Então ônibus parou:
- Desci

Já passavam das 18:00 horas, entrei em outro ônibus e segui meu caminho.
Já passavam das 18:00 horas, e eu estava de pé, dentro de outro ônibus abarrotado de gente, fazendo as mesmas coisas do ônibus anterior.
Desta vez eu não estava lendo um livro.
Na verdade, eu estava escrevendo este texto num planfleto velho que eu tinha na bolsa,
isto enquanto, eu segurava minhas lágrimas e pensando como foi frustrante ter presenciado aquele momento.
As 18:00 horas dentro daquele ônibus abarrotado de gente vazia.
Vendo três rapazes negros não sendo liberados, ainda que não tivessem nada que pudesse incriminá-los.
Corrijo-me!
- Tinham a cor da pele e os cabelos tingidos de amarelo por serem meninos, adolescentes.

Será que eu devo-me sentir aliviada por não ter nascido totalmente negra?
Será que eu devo-me sentir aliviada por não ter um filho totalmente negro?
Será que eu devo-me sentir aliviada por não ter nascido com cabelo crespo?
Será que eu devo-me sentir aliviada por não ter sido comigo ou com algum dos meus?
Será que devo-me sentir aliviada por ter tido acesso a educação?
Será que devo-me sentir aliviada por ter poder dar acesso a educação para meu filho?
Será que devo-me sentir aliviada por não ser tatuada, nem ter tingido os cabelos ou por não ser eles?

Já passam das 18:00 horas, e eu estou torcendo para que ao passar este texto a limpo eu mude minhas impressões sobre o acontecimento no trajeto das 18:00 horas.
Sinto que não vão.
É!
Não vão.
Então vou publicar este texto como forma de reflexão.
Então vou publicar este texto para mostrar minha indignação.

Não só com os fardados que estavam ali no ato do dever de seu trabalho.
Minha indignação é por ter nascido neste tempo, nesta nação.
É por ter estado naquele trajeto antes das 18:00 horas.
É por ter presenciado negros, religiosos e mães condenando aqueles rapazes.
Aqueles rapazes no trajeto das 18:00 horas, que também estavam de pé,
num ônibus abarrotado, respirando o mesmo ar que eu.
Eu que não pude fazer nada por eles.

Sabe porque?
Já passavam das 18:00 horas e eu quero deixar registrado este momento.
Por que eles também são gente como eu.
Eles também tem uma mãe, uma família como eu.
Alguém que choraria se os perdesse, assim como eu.
Que não me sinto tão mais especial só por que prestigiadamente não sou uma negra
a margem da sociedade.
Ainda bem que eu aprendi a ler escrever.
Por que assim eu posso deixar este registro e outros para meu filho.
Fim de texto.
Já passam de 18:00 horas.
O transtorno deste trajeto continua latente em minha mente...