(Crônicas da Minha Vida)
Eu amo Galinhas!
Minha vida seria trágica se não fosse
cheia de crônicas.
Hoje eu quero compartilhar meu amor
pelos animais, em especial pelas galinhas.
Ano passado Eddy e eu fomos dar um
passeio La no Parque Pedra da Cebola, e foi lá que algumas de minhas memórias
da infância se reacenderam.
Esta eu lá olhando para aquelas galinhas
maravilhosas do parque quando num passe de mágica veio à tona o que vou descrever
agora.
Quando eu era criança, lá no alto das
escadarias do Morro do Caneco, em Resplendor/MG, eu não tinha brinquedos
maravilhosos que algumas crianças costumavam ter. Mas eu tinha galinhas.
Incríveis e maravilhosas galinhas!
Essa memória da minha relação com as
galinhas voltou há pouco tempo.
E como começou essa relação?
Começou assim:
Volta e meia passava um caminhão com mega
fone gritando:
´’’- Alô, alô Dona Maria, traga seu
ferro velho, sua tampa, panelas velha, alumínio, cobre , tele-sena e troque por
pintinhos!’’
Então por conta desse tal caminhão,
juntávamos este tipo de material para realizarmos a troca, quando o tal
caminhão aparecesse.
E quando ele aparecia a galera do morro
descia igual um fervo pra trocar aquela bagulhada toda por pintinhos, e é claro
que eu e meus primos também íamos.
Minha avó Amélia criava os pintinhos até
eles virarem galos e galinhas e depois os vendia. Então trocar os pintinhos por
ferro velho era uma forma de escambo para manter um pouco da nossa sobrevivência.
No meio dessa história, na minha velha
casa no morro, morávamos todos embolados, meus primos, meus avós paternos,
galinhas, porcos e eu…
Então eu me lembrei disso tudo:
Do quanto brinquei de ser mãe de
galinha, irmã e tudo mais…
Do quanto já tomei banho e dei banho em
galinha ao mesmo tempo.
Banho de sabão de soda, diga-se de
passagem.
O que era na verdade ideia do meu primo
Valdir é claro.
Mas como ele era meu herói, então era
fácil ouvir o que ele dizia sem questionar. Pobres pintinhos, pobres galinhas!
Já pintei unhas das galinhas, coloquei lacinho
no pescoço, já dormi com uma escondida embaixo da coberta. Era mesmo amor! Amor
ingênuo de criança…
Eu conversava com as galinhas e elas
respondiam pó, pó… E eu acreditava piamente que elas me entendiam. Vai ver
entendiam mesmo! Amigos é sério, já dei aulas pra galinhas, já brinquei de ser
professora delas, acho que nunca fui uma criança normal…
Minha avó sempre comemorava os
aniversários da minha prima Valdirene, fazendo uma panelada de galinha cozida
com quiabo e polenta. Mas ela nunca fez
uma pra mim. Quando cresci eu era muito frustrada, me sentia rejeitada pelo
fato da minha avó nunca ter feito uma panelada de galinha no meu aniversário.
Eu achava que ela não gostava de mim por isso.
Dois anos atrás pedi a Eddy para me
presentear com uma panelada de galinha no meu aniversário. Ela me perguntou por
que e eu expliquei. Ela me prometeu que faria. Aposto como faria mesmo. Afinal
ela quer me ver sempre feliz!
Mas depois eu pensei bem e pedi a ela
pra deixar isso pra lá, isso da galinhada de aniversário, por que eu estava me
sentindo invejosa quanto ao fato da minha prima ganhar a tal galinhada e eu
não. Eu tinha mesmo era que ter ganhado da minha avó.
Voltando ao parque Pedra da Cebola,
estava lá eu e Eddy numa tarde agradável enquanto eu me lembrava de tudo isso.
Enquanto isso, galinhas da angola,
galinhas vermelhas, galinhas carijós e galos e pavões, patos e pintinhos
andavam livremente pelo parque colorindo o ambiente, enfeitando o gramado
verde.
Senti uma vontade enorme de chorar, por
ter voltado no tempo e depois ter voltado ali para onde eu estava. Senti
vontade de ser só mais uma vez aquela menina que abraça e conversava com
galinhas.
E foi só daí em diante me dei conta por
que minha avó nunca havia me dado aquela panelada de galinha com quiabo nos
meus aniversários.
Minha avó me amava da mesma maneira que
amava minha prima.
Enquanto estava ali sentada no parque
pensei:
Ela nunca deve ter me dado galinha de
aniversários, por que ela sabia o quanto eu gostava delas. Ela me viu crescer,
ela sabia que amava aquelas galinhas, que eu era amiga dela.
Poxa! Minha avó me amava mesmo.
Respeitava meu amor por elas, por isso
não as matava para mim.
E foi desse dia em diante que parei de
comê-las definitivamente.
Não podia mais.
Não conseguiria mais.
Recuperei minha preciosa memória.
Recuperei meu amor por elas.
Eu amo as galinhas vivas!
E viva o amor!
É como diz a canção do Lulu Santos;
“Consideramos justas todas as formas de
amor… ’
Daniela Dias.