Amargura, Café e Madrugada
Eu neste momento de imensa escuridão na alma, sento-me aqui nesta cadeira fria.
É madrugada!
Lá fora chove enquanto eu ouço aqui dentro.
Depois de ver a xícara de louça com café entornando sobre a tolha da mesa eu nada faço.
Não!
Eu não me movo não me assusto tão pouco me importo com a maldita mancha!
Apenas observo friamente...
É madrugada!
O café entornou, o cigarro cinza virou e o cinzeiro já está farto.
E eu não esboço sentimento algum, não eu não esboço.
E não é que eu não os sinta, apenas por que eu não quero demonstrá-los.
É madrugada!
Estou calada, acendendo cigarros e entornando xícaras de cafés,
estou engolindo lágrimas e escrevendo em disparada.
É madrugada...
Ei!
Esta conversa toda, feita em estrofes desenfeitadas não é para falar da madrugada fria,
não é pra falar da chuva que está caindo lá fora.
Não é para falar da minha xícara de louça, nem pra falar do café amargo entornado na toalha.
Sabe para que?
Será que você percebeu?
Esse poema;
É pra falar da minha dor escondida.
É pra falar do que existe aqui dentro do meu peito.
É pra falar do que está me matando.
É para falar que não estou dando conta da sua e da minha vaidade.
É pra falar que meus olhos estão marejando de verdade.
É pra falar de mim.
É pra falar de você.
É pra falar do meu amor...
E não é que eu não me importe com madrugadas, com a chuva, com a xícara ou com os cafés quentes entornados sobre a tal toalha.
- Eu me importo!
Mas é pra falar da insatisfação do meu momento que eu escrevo.
É pra dizer que na maioria das vezes eu sou feliz tendo apenas uma flor,
e que neste momento nem se eu tivesse um pote de ouro eu seria só por não ter você...
A cadeira já esquentou, já esvaziei minha dor nas linhas.
O café continua entornado sobre a toalha e eu não vou limpá-lo por hora.
Por que eu sei que haverá outra madrugada, outra toalha, outra xícara,
outro café e outra madrugada e tudo será como nada.
Ei!
Ouça-me!
Leia-me!
Ainda te amo!
É madrugada...
Por: Daniela Dias.