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Biblioteca de Fanzines

quinta-feira, 14 de abril de 2016

A vida é bela!

(Registro de Impressões)

Eis aqui o registro das minhas impressões a partir do encontro com um morador de rua.  É válido lembrar que este texto foi escritos uns dois anos atrás.

A vida é bela!

Muito bela!
Às vezes eu me esqueço disso. E pode ser que você que vai ler este texto também se esqueça às vezes. E isso é normal?  Bem, creio que não.
Eu pude mudar este conceito, descobri que a vida é bela!
Descobri que as melhores histórias vêm da noite, enquanto as luzes da cidade estão acesas.
As melhores lições podem ser aprendidas no meio do que imaginamos se insignificante. Basta que estejamos dispostos a receber de coração aberto.
A vida é bela!

Às vezes eu me sinto cansada da vida.
Às vezes eu me sinto exausta da convivência com as pessoas e parece que tudo é uma mesmice, muita gente bonita vazia. Mas, no número impar de hoje, encontrei respostas pares.
Descobri que as melhores histórias vêm da simplicidade das coisas.
A educação é extremamente importante, e ela vem de berço, não do dinheiro.
Descobri que outras pessoas podem ter o que eu tenho, mas, não podem ser o que eu sou...

(Lição de hoje.)
Era noite! Estávamos preparadas para o lançamento de um livro numa biblioteca pública.
E ao chegar no lugar combinado, o lançamento não era lá o que esperávamos, era muito sofisticado e pouco acolhedor.
Então decidimos ir até um barzinho próximo de lá.
Tomamos duas cervejas bem geladas, acompanhando uma troca de palavras sem fim, risos enfim, coisas de mulheres.
De repente começou a chover, tivemos que sair dali apressadas, então nos escondemos da chuva debaixo dum toldo.
Nem notamos que havia um morador de rua lá.
E na euforia da corridinha da chuva, entre os risos sabe-se lá do que, notamos que ele cantava:
‘’ Hoje a noite não tem luar e eu estou sem ela, já não sei onde procurar... ’’

Então eu disse:
- Ei cara! Vou te dar dois reais só por que você está cantando Vento no Litoral.
E as meninas riram muito, por que a música não era Vento no Litoral nem de longe. Posso me justificar, é que durante o dia eu tinha ouvido tanto Vento no Litoral.
Então... Eu me confundi juro!

A chuva não passava e já que eu tinha cometido esta gafe horrível, resolvi conversar com o morador de rua, coisas de curiosidade misturadas a dois copos de cerveja, sabe!
E as meninas foram levadas a conversar também.
Perguntamos sobre músicas e conhecia muita música boa, conhecia aristas.
Falava de poesias e de grandes inventores.
Mas, em meio a toda conversa envolvida de sorrisos e de brincadeiras, ele nos contou um pouco de sua vida, pelo menos uma parte que lhes cabia e convinha contar.

Segundo ele:
‘’ Já tinha sido casado por sete anos, com uma baiana porreta, que tinha uma filha que ele amava e criou como dele. E ele contava o quanto a amava, o quanto a respeitava, o quanto amava as duas enfim, que por várias vezes ele chamou de família.
Contou que se mudaram várias vezes para vários lugares, mas falava cabisbaixo.
Nós perguntávamos várias coisas a ele. E ele é claro, só respondia o que lhes interessava.
Esquivava-se, sempre sorrindo, malandragem da rua. Infelizmente as drogas o fizeram perder a família, a mulher que amava as drogas o fizeramele parar nas ruas. E estes foram os relatos dele. ’’

E, em meio às confissões confusas, outrora verdadeiras, ele poetizava, recitava maravilhosamente, falava de humildade, de amor ao próximo, de Deus.
Contava piadas sem graça, mas de um modo geral no meu ponto de análise crítica, ele falava muito mais palavras bonitas que mereciam nossa atenção.

Ele frisava o tempo todo sobre as mulheres, o respeito que as mulheres mereciam ao ponto de vista dele, sendo um simples morador de rua, era mais bonita e muito mais ampla que muitos homens comuns ou de classe social melhor.

Ainda mais se levarmos em conta o fato do nosso estado está sendo apontado como um estado com altíssimo número de agressões as mulheres.
Um morador de rua falando com propriedade coisas que um pós graduado talvez não dissesse me refiro aos valores de dentro, sabe!
Aqueles que a gente nasce com eles…

Olha, além da inteligência que ele tinha, acima de tudo dava pra ver nitidamente, que ele tinha um bom coração, as pessoas passavam o cumprimentando o tempo todo.
Ele estava sempre sorrindo.
Enquanto nós reclamamos de tanta bobagem, quem deveria estar chorando por não ter uma cama, uma casa, comida limpa, não estava ao contrário estava sorrindo.
Se dizendo rico, ironizando a própria desgraça, transformando-a numa piada.

Eu acredito sinceramente, que ele estava mais feliz do que muita gente que eu conheço que só reclama da vida.
É que problemas todo mundo tem, a diferença é como se trata o problema.
Eu tenho certeza que eu aprendi e nós aprendemos há valorizar um pouco mais as coisas, as pessoas e os momentos.
Tivemos com toda certeza, uma grande lição:
-Um bom caráter está além das aparências.

Lições que aprendemos conversando com ele:
* Seguir sempre sorrindo...
* A vida é bela!
* A felicidade está nas coisas simples!
* Caráter e honestidade estão além das aparências.
* Acima de tudo por, trás de um morador de rua, existe uma vida, uma história, um ser humano.

Frases ditas por ele em meio à conversa:
*Mulher nasceu para ser amada, respeitada, quando eu penso como uma mulher merece ser respeitada, eu penso em minha mãe.
* Mulher amamenta, tem útero, a mulher é a jóia mais preciosa do mundo.
* Se não fosse Deus o que seria de mim?
* Leia um dicionário.
* Nunca desista dos seus sonhos, dos seus objetivos, lute por eles até o final.
* Somos todos iguais, por que todos nós nascemos e todos nós vamos morrer.
* Amigos não levam a gente pro mau caminho, a gente vai por que a gente quer.
* A humildade é o que mais está faltando nas pessoas, sempre sejam humildes em tudo na vida de vocês.
* A coisa mais importante do mundo é amar o próximo como a si mesmo.
* Quando eu encontro uma mulher muito feia, basta eu conversar com ela para eu perceber que ela é linda, linda por dentro.
* Quando você estiver entre o certo e o errado, escolha o certo, sempre o certo.
* Quando eu decepcionei minha mulher, eu amava tanto ela, que comprei um cartão telefônico, liguei para ela e disse para ela seguir a vida dela, seguir em frente sem mim. Eu disse isso com o coração doendo por eu amava aquela mulher, mas ela tinha o direito de ser feliz.
Queridos!

Tentei me lembrar ao máximo dos fatos para descrevê-los, mas nem tudo consegui gravar, por que duas cervejas fazem muita diferença no meu organismo.
Mas do pouco que eu estou relatando aqui, fique para nós essa experiência positiva.
Fique para nós esta lembrança boa, por que a vida é bela!

Poesia recitada por ele:
- Meninas que me olham
que me dão toda atenção
vou contar uma coisa
que veio do meu coração.
A maior riqueza da vida
não está no carro, nem no bom emprego,
nem em jóias, nos sapatos da moda ou no aconchego.
Onde está?
Está no brilho dos seus olhos!
E o brilho dos seus olhos
eu comparo com as estrelas.
As estrelas são infinitas e isso é uma riqueza sem tamanho...

Quando perguntamos o nome dele, eis a resposta:
‘’ Joaquim José da Silva Xavier’’
 E é assim que vou terminar este texto, por que eu tive, aliás, tivemos a honra de falar com Joaquim José da Silva Xavier, certamente nome fictício. Homem, morador de rua que nos causou impacto maior até do que nós mereceríamos talvez.
N despedida ele sorria e acenava dizendo:
- A vida é bela…

(Daniela Dias.)