Embrulho de Pão
Ai que saudades daquele tempo!
O dia amanhecia.
Os galos de toda região cantavam.
Acordávamos todos bem cedinho.
A família era grande.
Faltava carne, mas não faltava carinho.
Enquanto minha avó coava um café quentinho,
eu e meus primos íamos até a vendinha do seu Vantuil.
Seu Vantuil era um homem pardo, barrigudo de bigodes grandes.
E o diálogo era sempre o mesmo:
(Nós)
-Moço tem pão dormido?
(Vantuil)
-Tem.
(Nós)
- Vamos querer esse dinheiro aqui de pão, mas um tem que ser de doce.
´´ É válido ressaltar que o pão não era todo dia, e que sempre que
íamos à venda nosso avô contava as moedas para nos dar. ’’
Seu Vantuil.
Ah, seu Vantuil!
Ele pegava os pães com um pegador prateado, num cesto grande e bonito!
Ao lado do cesto havia sempre dois rolos bem grandes;
Um rolo de papel para embrulhar os pães e o outro rolo era de barbante.
Rasgava o papel corretamente, embrulhava os pães cuidadosamente.
E depois os amarrava com o tal barbante e fazia um laço bem bonito!
O processo era bonito de ser ver!
Tanto que nunca pude esquecer.
Tanto que resolvi escrever…
(Nós)
-Obrigada!
(Vantuil)
-Mande lembranças a Seu Zé e Dona Amélia.
‘’É válido ressaltar também, que nunca mandávamos as lembranças. Mas
que sempre corríamos para casa com aquele embrulho bonito, sentávamos todos na
cozinha em volta duma mesa velha e bebíamos aquele café ralo, quase
transparente e quentinho, numas canecas recicláveis feitas de latas de óleo
pelo tio Valério, isso junto com pão dormido de sal, por que o pão de doce era
sempre do nosso avô. ’’
Ai que saudades daquele tempo!
O dia amanhecia.
Os galos de toda região cantavam.
Acordávamos todos bem cedinho.
A família era grande.
Faltava carne, mas não faltava carinho.
‘’Ai que saudade daquela simplicidade! Da inocência de ser criança! Da
velha infância.
Onde bonito mesmo, era o embrulho de pão do seu Vantuil. ’’
Por: Daniela Dias.