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Biblioteca de Fanzines

quarta-feira, 4 de maio de 2016

(ELA)

Ela

Alucinei!
Enlouqueci.
Era tarde!
Era noite!
Ela lançou-se numa cadeira, acendeu um cigarro e começou a fumar.

Alucinei!
Enlouqueci.
Era tarde!
Era noite!
Ela lançou-se numa cadeira e com o corpo meio inclinado pegou um poema
e começou a recitar.

Alucinei!
Enlouqueci.
Era tarde!
Era noite!
Deitou o cigarro num cinzeiro de cristal e recitou para o mundo inteiro.

Alucinei!
Enlouqueci.
Era tarde!
Era noite!
Ela recitava com grande comoção e enquanto ela o fazia, eu o sentia.

Alucinei!
Enlouqueci.
Era tarde!
Era noite!
É só por que ela recitava o mundo girava. Girava enquanto meu corpo gritava!

Alucinei!
Enlouqueci.
Era tarde!
Era noite!
Ela recitava, sorria, enquanto no canto olhar uma leve expressão surgia.
Era dor, era alegria, era cansaço, era poesia.
E ela declamava...

Alucinei!
Enlouqueci.
Era tarde!
Era noite!
E meu coração ruía, pelo poema, pela declamação,  pelas palavras, pela expressão!
Pelo contexto, pelo pretexto, pelo meu desconserto. Pela voz e por sua interpretação.

Alucinei!
Enlouqueci.
Era tarde!
Era noite!
Enquanto minha perna estremecia,  meu olhar enternecia.
E eu abandonei o marasmo da minha solidão.
Por mim, por ela e pela declamação.


Alucinei!
Enlouqueci.
Era tarde!
Era noite!
Era dor, era alegria, era cansaço, era poesia.
E ela moveu os cabelos para o lado, enquanto ao mesmo tempo sorria, declamando
e tragando aquele cigarro.

Alucinei!
Enlouqueci.
Era tarde!
Era noite!
Então o poema acabou e o cigarro também.
Ela inclinou ainda mais o corpo sobre a cadeira enquanto se mantinha de pernas
elegantemente cruzadas.
E eu me ajoelhei diante dela e a aplaudi.
Por que naquele momento éramos apenas, a poesia, eu, ela e o cigarro dela.

Por: Daniela Dias.