(Conto/Suspense)
A Mulher dos Sapatos Vermelhos
Um dia desses perdi a tranqüilidade, minha vida era bem pacífica, eu diria até morna.
Mas essa clamaria acabou tornando-se um pesadelo. Isso desde aquela noite.
Tenho andado tão preocupada com aquilo que eu vi.
Sei que eu deveria tomar alguma decisão, mas tenho estado envolvida demais pelo medo para esboçar qualquer atitude.
Tudo aconteceu assim:
- Era noite e eu estava chegando ao meu AP, sabe aquele lugar bagunçado que eu amo e chamo de lar. Eu estava apressada, tinha passado no supermercado para comprar umas besteiras e um vinho, portanto, estava cheia de sacolas, mais bolsa, mais celular, mais um monte de coisas que mulheres costumam carregar.
Estava bem tarde, um pouco silencioso, e o estacionamento do meu prédio é um pátio gigante!
Senti uma vontade doida de ascender um cigarro, embora eu saiba que cigarro é prejudicial, eu não abro mão dos filtros vermelhos. Abaixei-me atrás de um carro para colocar as sacolas no chão e abrir minha bolsa para pegar meu cigarro. Enquanto eu fuçava dentro da minha enorme bolsa cheia de objetos que eu nem sei por que estavam lá, ouvi um disparo.
-Pow!
Tomei um susto muito grande, fiquei apavorada! Parecia um tiro, será? Abaixei-me e olhei por debaixo do carro, foi quando vi os pés de uma mulher de sapatos vermelhos. E também o corpo de um homem estendido. Juro por Deus! Meu coração gelou, engoli o grito.
Fiquei ali abaixada sem qualquer reação, apenas notei que eram pernas femininas, de meia calça preta, sapatos vermelhos estilo camurça de salto agulha prata. Enquanto fechei os olhos por medo de ser vista, ouvi o barulho de um carro saindo. E numa fração de segundos depois, vi um monte de gente em volta do corpo, foi então que eu me levantei apressada, juntei minhas sacolas e saí atordoada dali.
Subi as escadas do meu prédio correndo, e olha que eu sempre reclamei de morar num prédio de seis andares sem elevador. Acontece que eu moro no quinto. Mas naquele dia eu subi tão ligeiramente que nem contei os degraus.
Entrei e fechei a porta.
Fumei pelo menos duas carteiras de cigarro naquela noite. E tomei pelo menos quatro taças de vinho. Mas o sono não vinha. E aquele barulho não saia da minha mente.
-Pow!
Aquele tóc-tóc de sapatos.
Tóc-tóc...
Aqueles sapatos!
Oh! Deus, eu estava estupefata, ou melhor, enlouquecendo.
O dia clareou e eu não havia dormido. Eu só pensava em como eu me salvei por ter me abaixado para ascender aquele cigarro.
No dia seguinte vi no jornal as noticias sobre o homicídio. E aqueles informes de que caso alguém tivesse alguma denúncia anônima.
Enquanto eu tomava um banho frio e a chaleira esquentava, eu só pensava que tudo o que eu tinha visto não serviria pra nada, mulher de sapatos vermelhos.
-Afinal, quantas mulheres existem por aí usando sapatos vermelhos?
Os dias foram passando e eu continuava com aquele barulho e aquela imagem em minha mente, quando eu acendia meus cigarros para fumar, era inevitável não pensar naquela cena,
De repente me lembrei do perfume que senti antes de me abaixar, era um perfume amadeirado, pouco comum, eu nunca tinha o sentido antes.
Aquele crime, e aquela dívida com meu cigarro estavam em incomodando muito.
Resolvi descobrir que cheiro era aquele, como se não bastasse o turbilhão que tinha se tornado a minha vida, eu ainda resolvi bancar a detetive.
Comecei a entrar em lojas e perfumarias procurando por aquele cheiro, eu dava dicas do cheiro para as vendedoras, mas já haviam se passado três longos meses e eu não consegui descobrir nada sobre o perfume.
Os dias foram passando, e eram banhos, chaleiras fervendo, cafés, chás, vinhos, cigarros e aquela imagem, aquele barulho e aquele perfume, sempre me perseguindo por todo lugar.
Os noticiários já haviam se esquecido daquele caso, juntei alguns recortes joguei sobre a bagunça da minha escrivaninha e não notei nada demais.
Nenhuma informação boa pra ser levada em consideração.
Mas eu precisava resolver aquele caso.
Nem me pergunte por que, só sei que eu precisava...
Eu não podia falar com ninguém sobre aquele assunto, por que as pessoas iriam me achar uma louca. Tentei encontrar parâmetros para o caso, até pensei em serial killer.
Achei pouco provável ser crime passional, por que não houve escândalos e ele era solteiro segundo as fontes. Nem meu livro do Nietzsche eu conseguia ler mais, eu só pensava naquele caso, naquele som, naqueles sapatos.
Sapatos de camurça vermelhos, agulha!
Passaram-se mais uns dois anos. E eu acabei deixando a ideia de resolver aquele caso para lá.
Já estava perto da minha formatura e embora eu odiasse a ideia da beca e da colação de grau, valsa e todas essas coisas de formandos, eu fazia parte do mundo e tinha que fazer aquilo para orgulhar meus pais.
Finalmente o período acabou o ToCoC e tudo mais, eu acabava de me formar em letras. Estava cheia de novas idéias para o futuro! Sabe coisa de quem acabou de se formar, como se isso fosse fácil? Pensei em escrever um romance policial ou algo do tipo, mas eu mesma não saberia das o desfecho necessário por conta daquela pendência de quase três anos atrás.
Noite de formatura:
- No dia da festa, usei um vestido amarelo horroroso! Sabe aqueles longos com luvas bregas? Ah! Sei lá por que minhas amigas da turma decidiram que todos os formandos iriam usar amarelo. E eu apenas concordei por que para mim tanto fazia mesmo, e também elas me pediram para votar quando eu já tinha tomado umas seis cervejas comemorando o tal ToCoC.
Então vou logo dizendo que só me vesti daquela maneira por isso. Bem eu estava ‘’dentro dos padrões’’ e enquanto todos comemoravam e dançavam, eu vi o improvável. O mesmo sapato vermelho, o mesmo camurça, o mesmo salto agulha, a mesma meia-calça, então fiquei tonta, assustada, deixei minha taça cair!
-Triiim!
Saí tremendo da festa, fui correndo arrastando o vestido até o toalete onde lavei o rosto. Acabei borrando toda a maquiagem, quis fazer xixi, é que quando sinto muito medo tenho vontade de fazer xixi. Foi quando ouvi o tóc-tóc inconfundível dos sapatos, o barulho era idêntico, acho que cada mulher tem um jeito de pisar.
Mas tive certeza quando senti novamente aquele perfume! Era o mesmo! Inconfundível.
Achei que já tinha bebido demais. Então resolvi espiar.
Eu a vi de costas pelo buraco da fechadura, ela retocava o batom enquanto falava ao celular:
-Hoje vai ter manchete!
Tomei coragem, pensando:
- Ela não me viu naquele estacionamento mesmo! Então saí do banheiro de cabeça baixa e ela me disse:
-Algum problema? Andou chorando?
Eu respondi:
-Sim, namorado, entende? Fiz isso balançando a cabeça.
Ela disse:
-Entendo, sinto muito!
Eu disse:
Adorei o perfume, se importa de me dizer qual?
Ela disse:
-Joop, comprei numa viajem ao Canadá.
Abri a porta do toalete e saí sem olhar pra trás.
Eu pensava:
- Jura mesmo que ela usa Joop?
Será que é ela mesma?
Uma assassina e eu a encontrei?
Devo estar bêbada ou louca...
Tomei mais algumas taças, era demais para minha cabeça.
Sabe, aquela mulher era bastante atraente, fora de qualquer suspeita de homicídio. E eu fui ascendendo mais cigarros e bebendo feito louca desorientada, é que na verdade eu estava mesmo. E u devia estar mesmo.
Não era possível! Isso era coisa de filme ou novela.
Sentei-me num canto e apaguei de tanto que eu bebi. Uma amiga veio me puxando pelo braço, foi então que abri os vi um reboliço de pessoas, alguém havia sido assassinado na festa.
E o caso estava sendo noticiando em primeira mão por uma repórter super conceituada, que a propósito era convidada na festa. Quando eu olhei para ela, adivinhem?
-Era a mulher de sapatos vermelhos.
Autora: Daniela Dias
A Mulher dos Sapatos Vermelhos
Um dia desses perdi a tranqüilidade, minha vida era bem pacífica, eu diria até morna.
Mas essa clamaria acabou tornando-se um pesadelo. Isso desde aquela noite.
Tenho andado tão preocupada com aquilo que eu vi.
Sei que eu deveria tomar alguma decisão, mas tenho estado envolvida demais pelo medo para esboçar qualquer atitude.
Tudo aconteceu assim:
- Era noite e eu estava chegando ao meu AP, sabe aquele lugar bagunçado que eu amo e chamo de lar. Eu estava apressada, tinha passado no supermercado para comprar umas besteiras e um vinho, portanto, estava cheia de sacolas, mais bolsa, mais celular, mais um monte de coisas que mulheres costumam carregar.
Estava bem tarde, um pouco silencioso, e o estacionamento do meu prédio é um pátio gigante!
Senti uma vontade doida de ascender um cigarro, embora eu saiba que cigarro é prejudicial, eu não abro mão dos filtros vermelhos. Abaixei-me atrás de um carro para colocar as sacolas no chão e abrir minha bolsa para pegar meu cigarro. Enquanto eu fuçava dentro da minha enorme bolsa cheia de objetos que eu nem sei por que estavam lá, ouvi um disparo.
-Pow!
Tomei um susto muito grande, fiquei apavorada! Parecia um tiro, será? Abaixei-me e olhei por debaixo do carro, foi quando vi os pés de uma mulher de sapatos vermelhos. E também o corpo de um homem estendido. Juro por Deus! Meu coração gelou, engoli o grito.
Fiquei ali abaixada sem qualquer reação, apenas notei que eram pernas femininas, de meia calça preta, sapatos vermelhos estilo camurça de salto agulha prata. Enquanto fechei os olhos por medo de ser vista, ouvi o barulho de um carro saindo. E numa fração de segundos depois, vi um monte de gente em volta do corpo, foi então que eu me levantei apressada, juntei minhas sacolas e saí atordoada dali.
Subi as escadas do meu prédio correndo, e olha que eu sempre reclamei de morar num prédio de seis andares sem elevador. Acontece que eu moro no quinto. Mas naquele dia eu subi tão ligeiramente que nem contei os degraus.
Entrei e fechei a porta.
Fumei pelo menos duas carteiras de cigarro naquela noite. E tomei pelo menos quatro taças de vinho. Mas o sono não vinha. E aquele barulho não saia da minha mente.
-Pow!
Aquele tóc-tóc de sapatos.
Tóc-tóc...
Aqueles sapatos!
Oh! Deus, eu estava estupefata, ou melhor, enlouquecendo.
O dia clareou e eu não havia dormido. Eu só pensava em como eu me salvei por ter me abaixado para ascender aquele cigarro.
No dia seguinte vi no jornal as noticias sobre o homicídio. E aqueles informes de que caso alguém tivesse alguma denúncia anônima.
Enquanto eu tomava um banho frio e a chaleira esquentava, eu só pensava que tudo o que eu tinha visto não serviria pra nada, mulher de sapatos vermelhos.
-Afinal, quantas mulheres existem por aí usando sapatos vermelhos?
Os dias foram passando e eu continuava com aquele barulho e aquela imagem em minha mente, quando eu acendia meus cigarros para fumar, era inevitável não pensar naquela cena,
De repente me lembrei do perfume que senti antes de me abaixar, era um perfume amadeirado, pouco comum, eu nunca tinha o sentido antes.
Aquele crime, e aquela dívida com meu cigarro estavam em incomodando muito.
Resolvi descobrir que cheiro era aquele, como se não bastasse o turbilhão que tinha se tornado a minha vida, eu ainda resolvi bancar a detetive.
Comecei a entrar em lojas e perfumarias procurando por aquele cheiro, eu dava dicas do cheiro para as vendedoras, mas já haviam se passado três longos meses e eu não consegui descobrir nada sobre o perfume.
Os dias foram passando, e eram banhos, chaleiras fervendo, cafés, chás, vinhos, cigarros e aquela imagem, aquele barulho e aquele perfume, sempre me perseguindo por todo lugar.
Os noticiários já haviam se esquecido daquele caso, juntei alguns recortes joguei sobre a bagunça da minha escrivaninha e não notei nada demais.
Nenhuma informação boa pra ser levada em consideração.
Mas eu precisava resolver aquele caso.
Nem me pergunte por que, só sei que eu precisava...
Eu não podia falar com ninguém sobre aquele assunto, por que as pessoas iriam me achar uma louca. Tentei encontrar parâmetros para o caso, até pensei em serial killer.
Achei pouco provável ser crime passional, por que não houve escândalos e ele era solteiro segundo as fontes. Nem meu livro do Nietzsche eu conseguia ler mais, eu só pensava naquele caso, naquele som, naqueles sapatos.
Sapatos de camurça vermelhos, agulha!
Passaram-se mais uns dois anos. E eu acabei deixando a ideia de resolver aquele caso para lá.
Já estava perto da minha formatura e embora eu odiasse a ideia da beca e da colação de grau, valsa e todas essas coisas de formandos, eu fazia parte do mundo e tinha que fazer aquilo para orgulhar meus pais.
Finalmente o período acabou o ToCoC e tudo mais, eu acabava de me formar em letras. Estava cheia de novas idéias para o futuro! Sabe coisa de quem acabou de se formar, como se isso fosse fácil? Pensei em escrever um romance policial ou algo do tipo, mas eu mesma não saberia das o desfecho necessário por conta daquela pendência de quase três anos atrás.
Noite de formatura:
- No dia da festa, usei um vestido amarelo horroroso! Sabe aqueles longos com luvas bregas? Ah! Sei lá por que minhas amigas da turma decidiram que todos os formandos iriam usar amarelo. E eu apenas concordei por que para mim tanto fazia mesmo, e também elas me pediram para votar quando eu já tinha tomado umas seis cervejas comemorando o tal ToCoC.
Então vou logo dizendo que só me vesti daquela maneira por isso. Bem eu estava ‘’dentro dos padrões’’ e enquanto todos comemoravam e dançavam, eu vi o improvável. O mesmo sapato vermelho, o mesmo camurça, o mesmo salto agulha, a mesma meia-calça, então fiquei tonta, assustada, deixei minha taça cair!
-Triiim!
Saí tremendo da festa, fui correndo arrastando o vestido até o toalete onde lavei o rosto. Acabei borrando toda a maquiagem, quis fazer xixi, é que quando sinto muito medo tenho vontade de fazer xixi. Foi quando ouvi o tóc-tóc inconfundível dos sapatos, o barulho era idêntico, acho que cada mulher tem um jeito de pisar.
Mas tive certeza quando senti novamente aquele perfume! Era o mesmo! Inconfundível.
Achei que já tinha bebido demais. Então resolvi espiar.
Eu a vi de costas pelo buraco da fechadura, ela retocava o batom enquanto falava ao celular:
-Hoje vai ter manchete!
Tomei coragem, pensando:
- Ela não me viu naquele estacionamento mesmo! Então saí do banheiro de cabeça baixa e ela me disse:
-Algum problema? Andou chorando?
Eu respondi:
-Sim, namorado, entende? Fiz isso balançando a cabeça.
Ela disse:
-Entendo, sinto muito!
Eu disse:
Adorei o perfume, se importa de me dizer qual?
Ela disse:
-Joop, comprei numa viajem ao Canadá.
Abri a porta do toalete e saí sem olhar pra trás.
Eu pensava:
- Jura mesmo que ela usa Joop?
Será que é ela mesma?
Uma assassina e eu a encontrei?
Devo estar bêbada ou louca...
Tomei mais algumas taças, era demais para minha cabeça.
Sabe, aquela mulher era bastante atraente, fora de qualquer suspeita de homicídio. E eu fui ascendendo mais cigarros e bebendo feito louca desorientada, é que na verdade eu estava mesmo. E u devia estar mesmo.
Não era possível! Isso era coisa de filme ou novela.
Sentei-me num canto e apaguei de tanto que eu bebi. Uma amiga veio me puxando pelo braço, foi então que abri os vi um reboliço de pessoas, alguém havia sido assassinado na festa.
E o caso estava sendo noticiando em primeira mão por uma repórter super conceituada, que a propósito era convidada na festa. Quando eu olhei para ela, adivinhem?
-Era a mulher de sapatos vermelhos.
Autora: Daniela Dias