Gratidão!
Avó.
Quando eu tinha doze anos, eu precisei morar na casa da minha avó.
E, ela me acolheu. Morei em sua casa por seis meses.
E, este tempo morando com ela foi muito bom!
Sua casa era simples, feito casas de desenhos infantis.
O piso era encerado. O fogão de barro era branquinho.
As latas bem ariadas sempre estavam cheias de biscoitos e bolos caseiros.
As roupas sempre bem estendidas e bem passadas.
Volta e meia ela costurava numa máquina preta Singer.
As comidas tinham sempre cheiro de alho frito!
E sempre que chovia, ela ajoelha-se aos pés de Nossa Senhora com um terço e orava.
Avó.
Ouvia missas no rádio e na TV via futebol.
Todo dia tinha pipoca!
Na semana santa ela fez um canjicão que nunca esqueci.
Eu sou tão grata!
Sabe! Minha avó me ensinou raízes.
Ela me ensinou tantas coisas em tão pouco tempo!
Ela tem muito sabedoria, e eu não conheço ninguém tão forte como ela.
Ela é calma e paciente.
Minha avó é guerreira e valente!
E eu sempre quis imitar a decência dela.
Avó!
Me ensinou passar roupas, comer de tudo sem exageros, comer de boca fechada,
andar de chinelos e andar de chinelos sem arrastar o pé.
Me ensinou que para cada lugar a gente precisa se vestir de acordo.
Cortar salada fininha e também me ensinou lavar minha peças íntimas.
Me ensinou rezar a Salve-Rainha, a Ave-Maria, o Pai-Nosso.
Me ensinou que quando a gente vai a algum lugar, a gente tem que sentar na primeira fileira para ouvir melhor o que é dito.
Minha avó me ensinou pedir benção para os mais velhos.
E, que não se pode responde-los em nenhum momento, ainda que eles não estejam certos.
Me ensinou que quando eu achasse que tinha razão em algum assunto, o mais sábio era eu ficar calada.
Avó!
Me ensinou que as comidas precisam combinar.
Que Deus existe e ele é bom!
Me ensinou a ouvir mais, por que sempre fui faladeira.
Me ensinou a ouvir as coisas e depois esquecê-las se não fossem boas.
Me ensinou a guardar segredos.
Minha avó me ensinou que nunca era bom retrucar.
Minha avó me ensinou a ter bom senso.
E que tomar partidos nunca era bom sinal.
Foi pouco o tempo que eu morei com ela.
Queria ter morado mais, mas...
Mas, o tempo que eu morei foi o bastante para eu aprender a ser um pouco gente.
Quando eu precisei morar com ela, eu era apenas um pedaço de carne pronta para ser devorada pela sociedade, eu não era educada, eu não tinha regras.
E ela me ensinou todas elas, e me ensinou por que eu precisas das tais ‘’regras’’.
Era para eu sobreviver na tal sociedade.
E, ela me ensinou tudo isso!
E eu sou grata a ela.
Avó!
Me ensinou torrar amendoim, fazer ponto cruz.
Acho que eu nunca soube agradecer por todas essas coisas simples, singelas e de extrema importância.
Mas, minha avó sabe que eu as aprendi.
Ela sabe que aprendi com ela.
Eu a amo tanto!
Por gratidão sem fim.
E por que mesmo que por pouco tempo ela foi uma grande mãe para mim.
Me preparando para enfrentar a tal vida.
Ela é o contrário de todas as mulheres da nossa família, ela é o exemplo absoluto!
Minha avó é o sinônimo da palavra paz!
E eu serei sempre grata!
(Daniela Dias)