-Provocações-
(O tema me pareceu merecedor de total atenção, eu o escrevi em forma de provocação. Para escrever este texto arranquei meu coração por alguns minutos. Portanto, aos que se interessarem em lê-lo, solicito gentilmente que façam o mesmo. E para maior percepção do que eu quis transmitir recomendo a leitura com o som →More Beautiful/Sad Piano Songs By Brian Crain, disponível no youtube.)
Aquela Mulher
Sobre aquela mulher?
Ela pensava que era livre!
Ela caminhava por aí.
Ela andava de ônibus, de carro, de moto, de bicicleta, a pé, de avião.
Ela tinha uma vontade absurda de ser livre!
Mas…
Aquela mulher?
Ela não!
Ela era uma mulher.
Ela vestia uma roupa curta.
Ela usava batom vermelho.
Ela pintava as unhas.
Ela usava brincos chamativos.
Ela deixava o cabelo grande até as curvas da bunda.
Ela era insinuante.
Ela pensava que era livre!
Mas…
Ah, aquela mulher?
Ela bebia cervejas e tequilas.
Ela fumaça.
Ela dançava até o chão, música de todos os ritmos, inclusive o tal pancadão.
Ela se exibia.
Andava com barriga de fora.
Ela provocava!
A culpa foi dela!
Só dela!
Ela pensava que era livre!
Mas.
AH, mulher…
Ela usava salto alto.
Ela se fazia intelectual.
Ela ignorava os caras pobres e pretos.
Ela ocupava cargos masculinos.
Ela invadia a sociedade com suas idéias de feminilidade!
Ela traia, mentia, fingia.
Ela tirava fotos provocantes.
A culpa foi dela!
Quem mandou ela pensar que era livre?
Dela!
A culpa foi dela.
Com certeza foi dela!
Aquela mulher?
Ela não era santa!
Ela trabalhava demais.
Ela se prostituía.
Era bonita de mais.
Achava-se demais.
Era metida.
Era mulher.
Nasceu mulher.
Aquela tola!
Ela pensava que era livre.
Mas…
De tanto querer ser.
Um dia acreditando nisso ela se fez corajosa!
Andou por aí sem proteção.
Passou por uma rua deserta até que então…
Ser mulher marcou sua vida.
(Seus gritos não foram ouvidos.)
Nem mesmo os seus gemidos.
Ela foi agredida.
Persuadida.
Foi agredida!
Espancada.
Violentada.
Estuprada.
E a culpa foi dela.
Só dela.
Quem mandou ela se comportar daquele jeito provocando o tal sujeito?
-A culpa é dela.
Só dela…
A culpa não é dele.
Ele nasceu com este instinto, ele não merecia ser provocado daquele jeito.
Dela!
Só dela!
A culpa foi dela!
Vadia!
Ela pensava que era livre!
Mas…
Ah, aquela mulher!
Ela foi assaltada.
Estuprada.
Flagelada.
Era mulher!
Livre demais.
Ela merecia.
Ela não era religiosa.
Ela queria ser destroçada.
Ela nem é pobre coitada.
Ainda abortou numa madrugada!
Abortou.
Maldita!
Que ela queime no inferno por ter abortado!
Abortado!
Ela matou o que Deus permitiu, a tal vida em seu ventre.
Ela mereceu…
Palavras da Sociedade desde que o mundo é mundo até os dias atuais.
Revendo
(Ela é mulher, ela sobreviveu.)
Ela sobre/viveu!
Ela sob/viveu!
Ela só viveu.
Ela viveu.
Ela.
Viveu…
Ninguém ouviu seus gritos, nem suas dores.
Ninguém entendeu seus motivos.
Só se espalhou rumores.
E os rumores eram estes.
- Isso aconteceu por que a culpa foi dela.
E eu que me debulho em provocações encharcadas de emoções digo apenas.
Arranquei meu coração para escrever este texto que não tem nada de sublime.
Eu sou aquela mulher.
Você é aquela mulher.
Sua mãe é aquela mulher.
Sua irmã também é.
Sua filha pode vir a ser.
Ninguém está imune.
Descrevi uma mulher que representasse todas.
E descrevi vozes que precisam ser caladas.
Pensamentos que existem e que precisam ser restaurados.
(Ela é mulher, tem sorte ela por ter sobrevivido?)
Por: Daniela Dias.