(TIA)
Eu tinha treze anos.
Ela me abriu uma porta.
Me deu casa, comida e ensinamentos.
O que aprendi nos poucos dias em sua companhia;
A palavra Jeová.
Tomar café em vez chá!
Tragar cigarros de filtro vermelho.
Me olhar no espelho.
Ouvir Raul Seixas.
Deixar crescer as madeixas!
Trabalhar, costurar, bordar sem queixas…
Auto medicação.
Ponto cruz, crouchê e cuscuz
Ajoelhar, orar, acreditar na luz.
Minha tia.
Quando eu precisei, ela me abriu uma porta.
A mesma por que ela abriu, eu mesma a fechei.
Fechei quando acreditei que meu lugar não era com ela.
Em vão…
Ah! Se eu soubesse o quanto seria duro pra mim fechar aquela porta!
Ah! Se eu soubesse que logo depois seu sorriso se apagaria.
Eu não lamento sobre isso.
Ela me abriu a porta e eu fechei…
Isto aqui é só pra registrar.
Isto aqui é só pra não ficar apagado ou esquecido aquele gesto dela.
Como eu poderia me esquecer de quem me abriu a porta quando eu mais
precisei?
Treze anos!
É…
Escrevo apenas para registrar que ela me abriu uma porta.
Me amou mais do que eu merecia.
Brigou por mim e me mostrou como era duro amar.
Mas eu…
Todos os dias ela saia cedinho com seu jeans claro de cintura alta,
camisetas de botão, fones de ouvido com Raul no último volume.
Ela abriu-me uma porta.
Eu a fechei.
Eu me fui.
Ela ficou.
Eu fiquei.
Ela se foi.
Ela se foi.
Ela se foi.
E eu fiquei pra nunca me esquecer daquela porta aberta e fechada.
Eu tinha treze.
Eu nunca tive chance de agradecê-la por aquela porta aberta.
Em algum lugar aqui dentro de mim ela ainda existe.
Ela tem um canto só dela.
Tia.
Marilza.
Mauriza.
Marisa.
Meu mar, minha brisa.
A nuvem que deságua em meus olhos!
Fechei.
Eu fechei a porta…
(Daniela Dias)