(Mágoa)
Estou morrendo!
Já fui ao encontro de Deus.
Já fui ao encontro do médico.
Fiz exames de consciência e clínicos também.
Na esperança da fé, não encontraram nada que me fosse satisfatório.
No resultado da medicina, encontraram de tudo um pouco, ao menos coisas pareceram mais lógicas e palpáveis.
Álcool, nicotina, cannabis sativa, diripona e várias outras substâncias
legais e ilegais, de fácil ou difícil acesso que algum dia já utilizei.
Coisas comidas, engolidas, ingeridas, aspiradas ou inaladas…
Muito açúcar, muita gordura, muito sal.
Muito ácido, vinagre, perfume e o escambau!
Choro de vela e até castiçal.
E o que isso importa?
Estou morrendo!
Orar?
Ir ao médico?
Do que me adiantou tudo isso até agora?
Do que me adiantará?
Estou morrendo aos poucos e nada mudará…
De que me vale ter a tal fé?
Calos nos joelhos não irão me curar!
De que me vale a medicina, se aquilo que realmente me mata,
um exame não pôde e nem poderá mostrar?
De que me vale a medicina, se aquilo que realmente me mata,
o remédio não pôde e não poderá curar?
Ah! Deus! Valha-me ó Deus!
Ceticismo.
Estou morrendo…
Orar!
Ajoelhar!
Fé!
Médicos!
Exames!
Prescrições!
Receitas!
Farmácia!
Pro inferno tudo isso!
Pro inferno!
Estou morrendo…
Doses de veneno em cápsulas e seringas de mágoas vêm sendo
ingeridos e injetados neste meu corpo cético feito pelo divino.
Doses diárias de cápsulas e seringas tem estado neste meu corpo
padecente a exatamente trinta e um anos.
Deus!
Deus?
Medicina!
Medicina?
Pro inferno tudo isso!
Onde estiveram eles nestes tantos anos?
Estou morrendo!
Socorro!
Estou morrendo por causa do veneno da mágoa.
Cuidado!
Sei que não nada me salvará de mim mesma nessa dependência.
Mas salve-se!
Não deixe que a mágoa o martirize em nome de nada.
Estou morrendo.
Estou morrendo!
Socorro!
Deus e os médicos não conseguem me curar.
Não posso mudar o rumo da minha própria trajetória.
Última frase antes do adeus:
-Salve-se! Não deixe a mágoa de contaminar…
(Daniela Dias)